
Por Claudio Prandoni
Tarde, mas quase em tempo, proponho uma pausa filosófica no concerto virtual dedicado à série Mother que o Alexei está dando curso por conta do aniversário de vinte anos da franquia. Hora de um café, bolachas amanteigadas, ar puro e, claro, uma análise.
Aliás, uma resenha das antigonas e prometida há um tempinho (aqui ó). Este texto possui uma história curiosa: era maio de 2006 e escrevi, imprimi e levei o texto em mãos ao Ronaldo Testa, atual mestre-mor do jogo duro lá no Hardgamer que na época era editor da então ainda não centenária Nintendo World.
Na visita, tive a chance de conversar pela primeira vez com o cara, a quem hoje considero um grande amigo e colega de profissão. Comemos algumas bolachas, tomamos pseudo-suco de laranja (ou foi só água?) e conversamos muito sobre a série Zelda. Não por menos: estávamos às vésperas do lançamento do Wii e Zelda: Twilight Princess.
Ah, sim! A análise é de Mother 3, terceiro capítulo da série que saiu só no Japão e emprestou o Lucas Patrício para o Super Smash Bros. Brawl. Mantive a ficha técnica usada pela NW na época e um box que sugeri sobre o excêntrico e competente Shigesato Itoi.
Quem sabe ainda não pinta uma versão ocidental de Mother 3 para DS? Ou até via Virtual Console ou coisa assim no DSi? Hein, Nintendo?

Análise – Mother 3
Mother 3 foi anunciado em 1996 como um game exclusivo para Nintendo 64. Problemas na produção (em especial nos gráficos tridimensionais, com os quais a equipe não estava habituada a trabalhar) fizeram o título ser transferido para o mal sucedido N64 Disk Drive, até eventualmente ser cancelado em 2000.
Frustrado com o fato, o criador da franquia, Shigesato Itoi, cogitou transformar a história do jogo, que já estava toda pronta, em um filme. Porém, chegou à conclusão de que só conseguiria transmitir a mensagem que desejava por meio de um game, e assim ganhou da Nintendo uma segunda chance.
Felizmente, Mother 3 se comportou como um bom vinho e amadureceu de maneira admirável nestes dez anos de produção. Este é o melhor capítulo da série, que teve apenas o segundo traduzido para o inglês sob o nome de Earthbound, de 94 para o SNES. O primeiro, para NES em 89, só saiu em japonês.

Estranho e velho conhecido
Em termos técnicos, o título é extremamente conservador. Segue a linha dos RPGs à la Dragon Quest, com gráficos 2D e batalhas por turno com visão em primeira pessoa e os inimigos no centro da tela. Acumula-se experiência para subir de nível e aprender novas habilidades e se ganham itens e equipamentos mais poderosos durante a jornada. Sem contar que é quase tão difícil como os games deste tipo para o Nintendinho.
A única inovação fica para o sistema Sound Battle, que permite realizar combos durante as batalhas pressionando o botão de ataque em sincronia com a batida da música de batalha. Algo vagamente similar ao visto em Super Mario RPG e Mario & Luigi: Superstar Saga.
O enredo é um show à parte. Esqueça mundos medievais ou civilizações futuristas. Como nos games anteriores, o enredo se desenrola em uma época contemporânea. O cenário é uma ilha que abriga uma vila de camponeses.
Ainda assim, excentricidade é a palavra de ordem. Diálogos engraçadíssimos e personagens totalmente inusitados povoam Mother 3. Alienígenas vestidos de porcos, fantasmas que arrotam, animais e objetos que falam (e te atacam) e travestis que vivem em uma concha rosa são apenas algumas das figuras bizarras que você encontrará nas quase 20 horas de jogo.
Curiosamente, a aventura apresenta alguns momentos bem dramáticos sem nunca ficar pesada. De fato, o grande trunfo de Mother 3 reside em apresentar uma história tocante com pitadas de bom humor sem ficar boba demais.
Tudo isso é embalado por competentes e coloridos gráficos que, mesmo não figurando entre os mais bonitos do GBA, são os melhores já vistos na franquia. Os personagens são bem animados e, como já é tradição, os fundos de tela nas batalhas são misturas brilhantes e psicodélicas de cores.
A trilha sonora ficou a cargo de Shogo Sakai, que trabalhará também no futuro Super Smash Bros. Brawl para Wii. As composições são variadas, divertidas e um tanto quanto excêntricas como as que Hirokazu Tanaka e Keiichi Suzuki fizeram para Mother 1 e 2, ainda que sem o mesmo toque de genialidade.
Mais do que um jogo que faz jus ao nome que carrega, Mother 3 é um dos últimos grande títulos para o GBA. Resta agora esperar que uma versão traduzida saia logo para que mais jogadores possam experimentar esta obra-prima de Shigesato Itoi e da Nintendo.
Nota: 8,5
Gráficos: 8
Som: 8
Jogabilidade: 8,5
Diversão: 9
Replay: 7
Produção: Brownie Brown
Distribuição: Nintendo
Gênero: RPG
Jogadores: 1
O pai (mãe?) de Mother
Shigesato Itoi é homem de apenas um game – em toda sua carreira, trabalhou apenas na série Mother. Mas certamente não é homem de uma só
profissão.
Fã dos Beatles, este japonês de 57 anos também é roteirista, dublou a voz de Tatsuo no anime Meu Vizinho Totoro, de Hayao Miyazaki, e nas horas vagas era até jurado do programa Iron Chef, um show culinário popular no Japão e EUA. Polivalente é apelido.
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