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Solid Gold: a história do carismático herdeiro de Indiana Jones (ou de pelo menos um dos)

Por Gustavo Hitzschky

Muito tempo depois das primeiras peripécias de Indiana Jones e Lara Croft, outra figura querida que tem sempre estampado um sorriso franco e espontâneo no rosto abrilhantou as telas do querido Amiga, computador desenvolvido pela Commodore que teve várias versões entre meados da década de 1980 e 1990. Em 2013, Solid Gold foi lançado pela Night Owl Design, encabeçada pelos irmãos alemães Gerrit, responsável pelos gráficos e trilha sonora, e Frank Wille, a cargo da programação.

O herói John Kayle recebe uma carta de seu antigo mentor, Lord Joffrey Montgomery, convidando-o a sua mansão no sul de Londres para conversar sobre um artefato que data do tempo dos maias. Ao chegar à propriedade do mestre, John o encontra à beira da morte, vítima de um atentado, e descobre que há pessoas em sua casa à procura do tal item. Entrando por uma passagem secreta, John deve tomar posse do objeto antes dos capangas. A partir daí, viajamos por dez fases, divididas entre quatro mundos (Londres, Guatemala/México, Egito e Babilônia), a fim de descobrir o grande mistério por trás do artefato.

Talvez a caracterização da personagem possa remeter o leitor a um outro jogo de Amiga, com temática e ambientação similares, lançado em 1989: trata-se de Rick Dangerous, que também teve versões para uma série de computadores daquela época. Porém, e para a minha surpresa, Gerrit, que ao lado do irmão me atendeu prontamente em entrevista por e-mail, afirma que tudo não passa de uma coincidência.

“Por mais estranho que pareça, nunca pensei em Rick Dangerous enquanto desenvolvia Solid Gold. Só me dei conta muito tempo depois. Mas eu era um grande fã de Indiana Jones nos anos 1980”. “Eu raramente penso muito sobre game design, além de dizer ao Gerrit o que não pode ser feito”, completa Frank.

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Enemy – Tempest of Violence: o jogo de Commodore Amiga que se tornou Top 1 da minha vida

Por Gustavo Hitzschky

Enemy: Tempest of Violence é um dos jogos mais difíceis, desafiadores, viciantes, frustrantes e maravilhosos que já joguei. Simplesmente isso.

O game foi lançado em 1997 sob a batuta do suíço André Wüthrich, que ficou a cargo do conceito, roteiro, programação, level design (aliás, Enemy é uma verdadeira aula de level design), gráficos e música. Feito exclusivamente para os computadores Amiga, desenvolvidos pela Commodore entre os anos de 1985 e 1994, Enemy não me parece muito conhecido entre os jogadores do continente americano. Isso porque o Amiga sofreu por essas bandas por conta de uma total ausência de marketing durante o período em que esteve no mercado. Já na Europa a situação foi oposta, e ainda hoje vemos muitos jogos homebrew para o Amiga cuja origem é o Velho Mundo. Como a Commodore tinha operações quase que inteiramente independentes por lá em relação à matriz americana, os europeus tocaram o barco à sua maneira e acertaram ao classificar o Amiga como um sistema de jogos, mais do que de qualquer outra coisa. Aproveitando-se do fato de que, nos anos 1980, o mercado de consoles não estava totalmente estabelecido na Europa e os computadores caseiros possuíam relevância, a Commodore encontrou um terreno fértil que explica o sucesso da plataforma ali e as raízes europeias de muitos jogos. Ainda assim, Enemy não me parece conhecido nem mesmo entre os entusiastas do computador, o que certamente é de se lamentar.

Então como é que foi que cheguei a Enemy? Foi graças a Eric Fraga, um dos pilares do canal Cosmic Effect (que você pode conferir tanto no YouTube quanto na Twitch), que um dia resolveu fazer lives desse estranho e desconhecido jogo. Por sua vez, Eric encontrou Enemy por conta do blog Amiga Reviews e do streamer australiano Macaw45, que levou mais de 45 horas para finalizá-lo (mas não acho que o nome tenha a ver com o tempo do jogo). Aliás, há um post no Kotaku sobre a peregrinação de Macaw em Enemy, porém sugiro a leitura com moderação por conta de spoilers sobre o final.

(Ao concluir a minha jogatina, li o texto do Kotaku e, ao saber como Macaw havia resolvido o último desafio, fiquei totalmente estarrecido e tive até que ver o vídeo em seu canal na Twitch para comprovar a veracidade do post. Minha fascinação se deu porque não fiz a mesma coisa que o australiano, e mesmo assim consegui. Mais sobre jeitos diversos de triunfar em Enemy adiante.)

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Ed Fries: Como um dos maiores nomes da área de games da Microsoft criou Halo para o Atari 2600

Ed Fries – Wikipédia, a enciclopédia livrePor Gustavo Hitzschky

A série Halo jamais me chamou a atenção. Nunca me interessei pelas aventuras de Master Chief e, além de tudo, em nenhum momento de minha vida tive um console da Microsoft. Mas todas as minhas defesas foram abatidas quando vi pela primeira vez uma imagem do herói da milionária franquia da Bungie em singelos sprites rodando num emulador de Atari 2600. Tinha que pesquisar sobre aquilo.

E qual não foi a minha surpresa ao constatar que o responsável por essa joia de 2010 foi ninguém menos que Ed Fries, ex-vice-presidente do Microsoft Game Studios, co-criador do Xbox original e o responsável pela aquisição dos estúdios Bungie e Rare, tendo trabalhado na gigante norte-americana por dezoito anos. Sabe-se que a cena de jogos homebrew — ou caseiros, numa tradução livre, ou seja, games criados por fãs, entusiastas ou qualquer pessoa interessada em programação ou game design — é muito forte, sobretudo no que diz respeito ao Atari 2600. Mas uma coisa é você ter um jogo feito por anônimos como eu e você. Outra coisa é ter um jogo feito por alguém que conhece porque já esteve lá — e como esteve.

Ed Fries gosta de construir, fazer coisas. E isso vem de berço. Seus pais trabalharam na famigerada produtora de aviões Boeing, e Fries frequentemente brincava com computadores e calculadoras HP que o pai trazia para casa, além de montar objetos com madeira e o que mais tivesse à mão. No entanto, sua verdadeira paixão eram os videogames. O jovem Ed cresceu em torno dos primeiros fliperamas, e Space Invaders é de suas recordações mais antigas.

A curiosidade de manipular equipamentos eletrônicos fazia com que Ed, ainda no Ensino Médio, tentasse reproduzir aquilo que via nos jogos, mesmo que de modo arcaico. Programando para o Atari 800, ele criou um clone de Frogger com o sugestivo nome de Froggie, tendo sido publicado por uma empresa californiana chamada Romox sob o título de Princess and Frog — de algum modo, a Romox foi capaz de localizar o “Eddie Fries” que assinava aquele jogo.

Froggie foi o primeiro jogo criado por Ed Fries quando ainda estava no Ensino Médio

Em 1985, quando estudava Ciência da Computação no New Mexico Institute of Mining and Technology, Ed se inscreveu em um estágio oferecido pela Microsoft e passou a trabalhar lá no ano seguinte. Por uma década, esteve envolvido no desenvolvimento inicial de programas do pacote Office, como Excel e Word. Quando foi convidado para ir à Califórnia a fim de trabalhar (em um cargo executivo) no Power Point, Ed recusou e disse que queria se envolver com jogos, já que seu objetivo era fazer com a companhia entrasse nesse ramo. E teve que ouvir de vice-presidentes que estava cometendo suicídio corporativo. “Por que você quer trabalhar com algo para que ninguém liga? Você vai jogar sua carreira no lixo!”, foram frases que ouviu de figurões da gigante. O resto é história.

Como meu objetivo não é fazer uma minibiografia de Ed Fries sobre sua carreira na Microsoft, paro por aqui e deixo mais abaixo três vídeos que me ajudaram nas pesquisas para esse post e que contêm mais informações sobre esse período de sua vida. Cito somente que Ed esteve envolvido durante as quase duas décadas de Microsoft com games do calibre de Age of Empires, Flight Simulator 2000, Motocross Madness 2, Halo, Oddworld: Munch’s Oddysee, entre outros, totalizando mais de cem títulos produzidos.

Além disso, cabe o registro rápido: pode-se dizer que Ed e a Microsoft salvaram a Bungie da falência ao adquirir o estúdio, o qual entrou em contato com Ed via telefone dizendo que a empresa seria obrigada a fechar as portas, perguntando se não havia algum interesse de aquisição por parte da companhia de Redmond. Como afirmei acima, Ed também desempenhou papel fundamental na compra da Rare, cujo contrato com a Nintendo estava por acabar e, em não havendo sinal de que a Big N o renovaria, a Microsoft agiu rapidamente e o negócio foi logo selado.

A carreira de Ed na Microsoft chegou ao fim em 2004. A companhia queria que a sequência de Halo, àquela altura um sucesso estrondoso, fosse lançada o quanto antes, mas Ed, por ter trabalhado com games, entendia o quanto era precioso e necessário um tempo de produção maior a fim de que o jogo ficasse redondo. Assim como a Bungie, ele queria mais um ano para que Halo 2 ficasse pronto. Os engravatados não concordaram e bateram o pé. Ed disse que se demitiria caso os 12 meses adicionais não fossem concedidos, e então os executivos cederam. Porém a partir dali Ed passou a se perguntar, “quantas vezes terei que fazer esse tipo de ameaça para que as coisas saiam do meu jeito?”. Com isso em mente e a fim de evitar desgastes, ele optou por sair.

 

 

 

As origens de Halo 2600

Em 2009, após uma palestra na cidade da Filadélfia, em que falou sobre sua experiência programando para o Atari 800, alguém abordou Ed e lhe perguntou se já havia programado também para o 2600. Depois da resposta negativa, uma vez que o console foi lançado em 1977 e Ed só tinha 13 anos, a pessoa lhe sugeriu que lesse o livro “Racing the Beam: The Atari Computer System”, escrito por Nick Montfort e Ian Bogost, que trata da influência da plataforma tanto do ponto de vista computacional quanto cultural. Logo a seguir, Ed encomendou a obra.

Ed ficou interessado em criar alguma coisa para o 2600. O videogame era tão limitado e se mostrava um desafio tão complexo que a curiosidade de Ed acabou sendo atiçada. “[O Atari 2600] tem apenas 128 bytes de RAM. É uma quantidade absurdamente pequena. Há somente dois sprites de personagens e eles só têm uma cor e tamanho de um byte, portanto se você quiser fazer alguma coisa interessante com eles é preciso alterá-los constantemente à medida que o canhão de elétrons se desloca sobre a tela [da televisão]”, me disse Ed em entrevista por e-mail.

A pergunta que eu tinha na cabeça quando estava trabalhando [em Halo 2600] era, “Aprendemos alguma coisa?”, no seguinte sentido, será que aprendemos alguma coisa de design de jogos que eles não sabiam lá no final dos anos 1970 e no começo dos 1980 que eu poderia incluir enquanto ainda permanecesse dentro das amarras da máquina?

HALO 2600A partir da leitura, Ed procurou comunidades de jogos homebrew e encontrou ferramentas com as quais podia trabalhar. Meio que de brincadeira, começou a esboçar na tela a primeira imagem que lhe veio à cabeça: o protagonista de Halo — ou então havia algo em sua mesa que lembrava Master Chief, como o próprio Ed já disse em entrevistas. Sprite por sprite, Ed levou duas semanas para concluir o primeiro personagem do “jogo”, já que sua ideia não era nem fazer um game em si. Lembremo-nos, desde a infância Ed gostava de montar coisas com o que tinha à disposição, portanto pode-se dizer que ele encarou isso como mais um de seus projetos dos anos de garoto.

No entanto, um evento iria alterar o rumo da história. Durante a Game Developers Conference de 2010, que ocorreu em março, Ed se deparou com seu antigo companheiro de Microsoft, Chris Charla (diretor do ID@Xbox), que se encontrava ali com um grupo de amigos, a saber: Mike Mika (game designer e historiador de jogos), Ian Bogost, justamente um dos autores do livro que tanto fascinara Ed, e Tod Frye (programador e engenheiro de software), responsável pela adaptação de Pac-Man para o Atari 2600. Ao ver Frye, evidentemente a conversa enveredou para o Master Chief que Ed havia programado.

“Sério?! Você está fazendo um Halo para o Atari?!”, pergunta um empolgado Tod Frye. “Não, calma, eu só estou brincando com algumas coisas na tela”, responde Ed. “Você precisa fazer esse jogo!”, exorta a pequena plateia em transe. Ed busca algumas desculpas, do tipo “faltam uns sprites, não sou designer e não consigo fazer”, ao que Mike Mika prontamente se predispõe a finalizar. Halo 2600 teria que acontecer.

A meta então foi aprontar o jogo a fim de estrear na Classic Gaming Expo, feira que teve onze edições entre 1999 e 2014, sendo que a de 2010 ocorreu nos dias 31 de julho e 1 de agosto em Las Vegas. Ou seja, Ed teria menos de seis meses para concluir Halo 2600, e assim o fez. Foram levadas 150 fitas para a CGE. Todas foram vendidas. Ao contrário do que Ed esperava, a coisa não ficou restrita à comunidade homebrew, tendo ido parar até numa mostra de arte no Smithsonian American Art Museum para posteriormente integrar o acervo permanente do museu.

O jogo

Halo 2600 traz 64 telas recheadas de Covenants, power-ups, chaves e terrenos variados e nada amigáveis.

Quem jogou Adventure de Atari 2600 certamente notará a semelhança em alguns aspectos, sobretudo no que diz respeito a coletar chaves para liberar as próximas áreas. Tendo somente três vidas, Master Chief caminha por ambientes que variam entre floresta, base alienígena e territórios gélidos. Aliás, ao caminhar por algumas áreas congeladas, o personagem desliza pela tela, fazendo com que o controle se torne mais complicado.

A fim de enfrentar as diversas ameaças Covenant, o protagonista conta com uma pistola — a qual contém um upgrade que deixa o tiro mais rápido — um escudo, que permite que Master Chief não seja morto com apenas um golpe, e botas de alta velocidade. Aliás, há uma indicação de que o personagem está com o escudo, pois é possível vê-lo piscando na tela.

A revista Retro Gamer número 82 traz um pequeno texto sobre Halo 2600 em que se diz que a aventura demora de seis a sete minutos. É necessária uma ressalva, porém: de fato, pode-se terminar o game em menos de dez minutos, mas não se devem excluir todas as tentativas antes de se dominar não só o mapa como também o posicionamento dos inimigos nas telas.

E vai depender muito do seu estilo de jogo: dá para terminar matando todos os inimigos ou nenhum (a não ser o chefe final). Tendo o design do mapa memorizado, a tarefa fica bem mais tranquila, mas onde está a diversão de passar pelos cenários sem aproveitar toda a graça do que se vê? Tudo, absolutamente tudo, de Master Chef aos inimigos, passando por árvores, portões de energia e power-ups, é dotado de uma dose absurda de fofura. O que não desmerece em nada o trabalho fenomenal de Ed, muito pelo contrário.

Halo 2600 - Tiding you over until Halo:Reach - Weirdass

É essencial pegar os power-ups pelo caminho a fim de facilitar a aventura

Finda a aventura, a exemplo de Halo original, temos acesso ao Modo Lendário, em que Master Chief se move bem lentamente. Não fiz muitas tentativas nesse modo, mas certamente irei voltar ao jogo para tentar zerá-lo com essa dose extra de desafio.

A seguir, a entrevista na íntegra que fiz por e-mail com Ed Fries. O blog Hadouken é eternamente grato a ele.

***

Hadouken: Você disse que é preciso ter um bom relacionamento com o 2600 para atingir não exatamente aquilo que você quer em um jogo, mas o que a máquina permite. Há alguma coisa que você queria incluir em Halo 2600 que não foi possível?

Ed Fries: Consegui incluir as principais coisas que queria: uma tela de título bacana, 64 salas com dificuldade crescente e monstros, ambientes e power-ups diferentes, além de um combate com um chefe no final. Foi tudo que coube em 4K, e mesmo assim foi apertado. Escrevi um minigame com visão lateral em que você controla uma espécie de javali ao estilo Moon Patrol [jogo de arcade de 1982 que teve um port para o Atari 2600], mas não houve espaço para colocá-lo na versão final.

H: Quão divertido e complicado foi programar algo para o 2600 pela primeira vez?

E.F: Escrevi vários jogos para o Atari 800 no começo dos anos 1980, então sabia programar em linguagem assembly [para microchips] 6502, mas o Atari 2600 adiciona todo um nível novo de dificuldade. Ele tem apenas 128 bytes de RAM. É uma quantidade absurdamente pequena. Há somente dois sprites de personagens e eles só têm uma cor e tamanho de um byte, portanto se você quiser fazer alguma coisa interessante com eles é preciso alterá-los constantemente à medida que o canhão de elétrons se desloca sobre a tela [da televisão].

H:  Qual é o seu aspecto favorito do jogo? O que você teria feito diferente?

E.F: Acredito que a minha coisa favorita é simplesmente observar as pessoas e ver se acabam com um sorriso no rosto. Acho que esse é o elogio máximo para qualquer criador. Quanto ao que teria feito diferente, provavelmente deveria ter dado a arma para o jogador desde o começo. Estava tentando fazer uma referência a Halo 1, em que você começa sem arma e precisa explorar um pouco antes de pegá-la, mas, em Halo 2600, se você não for para cima na primeira tela pode ser bem confuso o que fazer a seguir.

H: Você afirmou que em Halo 2600 você meio que misturou shooters 2D e Adventure (Atari 2600). Há outros jogos que influenciaram o seu projeto?

E.F: A pergunta que eu tinha na cabeça quando estava trabalhando nele era, “Aprendemos alguma coisa?”, no seguinte sentido, será que aprendemos alguma coisa de design de jogos que eles não sabiam lá no final dos anos 1970 e no começo dos 1980 que eu poderia incluir enquanto ainda permanecesse dentro das amarras da máquina? Um jogo desses, com tiros, exploração e chefes de fato não existia então. Talvez o mais próximo seja Berzerk [fliperama de 1980 que também ganhou port para o 2600], mas a sensação é bem diferente. Acho que queria combinar um hardware antigo com um design de jogo moderno e ver se dava algo interessante.

H: Ao terminar o jogo, é possível jogá-lo de novo numa espécie de modo difícil, no qual o personagem anda e atira mais lentamente. Você conseguiu terminar o jogo nesse modo? Alguma dica para quem joga mal que nem eu?

E.F: O “Modo Lendário” foi meio que um truque barato que incluí porque quase não requeria programação adicional e novamente foi uma referência ao Halo original.  Não terminei nem Halo 1, nem o 2600 no Modo Lendário, então não vou conseguir ajudar muito!

H: Você chegou a ver o manual e a arte da caixa criados por um fã? Você criou alguma coisa tipo um manual lá em 2010?

E.F: O jogo foi lançado pelo AtariAge [site especializado nas plataformas fabricadas pela Atari] e ainda está disponível na loja deles. Havia dois rótulos diferentes, um para as primeiras 150 fitas e um para as cópias posteriores. Acredito que há a opção de compra com ou sem a caixa, e eu gosto do que fizeram.

H: Quem fez a adaptação daquela música extremamente bonitinha da tela inicial?

E.F: Fui eu. Sabia que queria tentar espremer [no jogo] alguma musiquinha, então encontrei online uma música de piano do tema do Halo e daí pus os primeiros compassos no jogo. Até isso é difícil no 2600 porque o sistema de som não oferece todas as notas que estão no piano, portanto tive que alterar o tom para encontrar alguma coisa que funcionasse.

H: Você considera ou já considerou fazer uma sequência de Halo 2600?

E.F: Acredito que não, mas nunca se sabe!

H: Além de Rally-X, há outros jogos que você gostaria de lançar no 2600? Você disse em uma entrevista à Retro Gamer que era possível que o seu próximo projeto estivesse relacionado a um hardware, certo?

E.F: Eu meio que fui para outros projetos nos últimos tempos. Passei por uma fase de colecionar e restaurar máquinas de fliperama antigas sobre as quais escrevi no blog edfries.wordpress.com. Ultimamente tenho trabalhado em algumas máquinas ainda mais velhas e agora tenho um [minicomputador] PDP-8/L de 1968 que roda uma versão customizada de Spacewar! e um PDP-11/73 que roda vários jogos antigos como Rogue, Adventure e Zork.

H: Quais são os outros jogos homebrew que você curte bastante?

E.F: Há um jogo que ainda não foi lançado chamado Tap-A-Mole, feito por um game designer famoso, e estou me divertido demais com isso. É um joguinho muito bom e acho que as pessoas vão ficar surpresas quando descobrirem quem o fez.

H: E por fim, Ed, o que você tem feito nesse mundo pandêmico triste e maluco onde vivemos? Te ajuda de alguma maneira o fato de que temos que ficar mais tempo em casa em termos de criatividade aplicada a projetos? Tem jogado coisas que nunca havia jogado antes, você tem mais tempo livre agora?

E.F: Em termos de trabalho, nos últimos dois anos fundei e comandei uma empresa de financiamentos chamada 1UP Ventures. Investimos em pequenos desenvolvedores de jogos em todo o mundo. Até agora fizemos mais de vinte investimentos  e o objetivo é fazer um total de 50 investimentos em quatro anos. Isso tem me deixado bem ocupado! Quando não estou fazendo isso ou jogando com os meus dois filhos adolescentes, trabalho nos projetos dos PDP que mencionei acima e num projeto de arte em larga escala sobre o qual ainda não posso falar — talvez no ano que vem.

Concluse mostra a força do indie 3D

Por Gustavo Hitzschky

Monochromatic PS1-inspired title Concluse gets release date - Rely on HorrorA gente se acostumou a jogar games indie cujo estilo gráfico tem como base a pixel art. Além da evidente vantagem no que diz respeito à simplicidade do desenho em si, quando comparado ao 3D, a pixel art é atemporal, enquanto que, por vezes, as três dimensões parecem envelhecer mal no coração e nas mentes dos jogadores.

Mas Jon Martin parece não estar preocupado com isso. O criador de Concluse, que comanda o Studio Snowspot, resolveu abraçar os primórdios do 3D de meados dos anos 1990. Contrapondo-se ao fotorrealismo cada vez mais presente em títulos AAA, Jon enveredou pelo caminho da modéstia das texturas, da pouca visibilidade na profundidade, dos gráficos granulados e das superfícies planas e meio toscas. Como aponta Paul Walker-Emig na edição 217 da revista Retro Gamer, tudo isso evoca uma sensação de surreal, provocando desconforto nas pessoas. Já que Concluse é um jogo de terror, o estilo gráfico adotado não poderia ser mais apropriado.

“Além da nostalgia, acho que os gráficos pouco polidos e em baixa resolução são tão populares porque é mais fácil para quem está começando. Você tem que aprender isso antes de pode criar jogos em alta resolução, e fazer um game no estilo do PS1 permite a você fazer gráficos em resolução baixa sem ver isso como algo negativo”, explica Jon em entrevista realizada via Twitter.

As musas de Concluse são aquelas que poderíamos imaginar, sobretudo em se tratando de um game que remonta àquilo que vimos no PS: Silent Hill e Resident Evil estão presentes não somente no enredo em si como também nos puzzles que encontramos pelo caminho e até por certos itens — por exemplo, o protagonista encontra algumas ervas que, se coletadas em sua totalidade e entregues a um certo personagem, garantem um final secreto (mas nem adianta tentar combiná-las). “Na época [da criação do jogo, lançado em 2018] eu também estava fortemente influenciado por King’s Field”, complementa Jon.

Em Concluse controlamos Michael, cuja esposa Carolyn desapareceu há três anos sem deixar vestígios. Depois de um telefonema, um desconhecido lhe disse que Carolyn está bem e vivendo numa cidade chamada Hell, na Nova Inglaterra. A ação começa dentro de um metrô na cidade vizinha de Cordova.

A perspectiva em primeira pessoa de fato remete a King’s Field, citado anteriormente por Jon como uma das referências. A esposa desaparecida (Silent Hill 2 e Resident Evil VII me vêm à memória) e os locais visitados, entre eles um hospital, esgotos e um parque, pagam tributo às franquias da Konami e da Capcom, mas Concluse tem força suficiente para se destacar e desapegar a sua imagem das séries de sucesso. Os acontecimentos são entremeados por sequências em FMV, algo que Jon gostou muito de criar para contribuir com o clima de ar pesado. Sabe-se mais da trama e o do que acontece no lugar por meio de documentos que vamos encontrando na jornada.

Enquanto se desloca pela cidade de Cordova, Michael interage com os ambientes na medida em que coleta itens como chaves e moedas, e resolve puzzles, além de ser constantemente espiado por uma figura que lembra uma mulher de cabelos longos e morenos. A tensão se mantém constante, embora não haja elementos de combate — bem… deixa pra lá. Basta dizer que não temos acesso a nenhum tipo de armas. Tive uma certa claustrofobia devido à paleta de cores simples, basicamente preto e branco e variações entre uma e outra, e à parte sonora: o tempo todo escutam-se os passos do protagonista, e mesmo em espaços abertos se tem a sensação de estar preso, enjaulado e espreitado.

Aliás, o som também merece destaque na dublagem — que, se não é abundante, não deixa de ser marcante. É possível, por meio de telefones públicos, ligar para a própria casa, para Carolyn ou para a mãe do protagonista (a primeira ligação que fiz foi para esta última, confesso). A voz das personagens sublinham a angústia e o desespero provocados pela situação, que por si já é dramática: você está sozinho em um local totalmente desconhecido procurando a esposa que não vê há três anos. Evidentemente Carolyn não atende o telefone. Ou será que atende? E tem alguém na casa de Michael?

Dá para escolher diferentes resoluções no jogo e também jogar a 60 frames, o que definitivamente não recomendo. A precariedade proposital visual de Concluse é traduzida em vultos que parecem se deslocar a distância — quando na verdade são, por exemplo, árvores. Enfim, tudo aquilo que escrevi no começo no que tange aos gráficos, sobretudo a simplicidade das texturas, que vão se modificando e parecem pular para se ajustar aos ângulos da câmera, e a falta de profundidade somado ao ruído dos passos contribuem para fazer de Concluse uma joia no mar infinito de games indie. A abstração e a falta provenientes de um modelo gráfico cheio de lacunas fazem com que estas sejam preenchidas pelo nosso cérebro, pela nossa imaginação. E sabemos o quão longe ela pode ir. Já foi dito que nada pode ser visual ou sonoramente tão assustador quanto aquilo que nossa cabeça consegue formular. E o melhor de tudo é que o jogo está disponível para download gratuito na plataforma Steam, algo de que Jon se arrepende parcialmente.

“Foi meu primeiro projeto como desenvolvedor de jogos, então na época não tinha certeza se era bom o bastante para ser um produto pago. Olhando para trás, queria ter ganhando mais dinheiro com ele… mas não teria tido o alcance que teve se não fosse grátis”, pondera Jon.

Já é sabido que Concluse 2 está em desenvolvimento, inclusive com uma demo disponível, e Jon me disse que ele será três vezes maior do que o primeiro e desta vez teremos combate e ainda mais elementos de aventura. “Mas ainda há muitas partes sem combate em que você explora lugares escuros sozinho e resolve puzzles”, emenda Jon, algo que fizemos bastante no primeiro capítulo.

“Esperamos que o combate torne as coisas mais tensas… mas também pode acrescentar uma nova camada de medo para que o jogador não se sinta sempre seguro”. E quanto a um possível terceiro capítulo, Jon? “Eu o tenho todo planejado na minha cabeça… porém não posso dizer muito sem dar spoilers sobre o que acontece em Concluse 2”.

Gritos, sussurros e um pouco sobre Anna

Por Gustavo Hitzschky

Fico incomodado ao ver que hoje há uma escassez lamentável de jogos que nos fazem pensar. E com “pensar” não me refiro a simplesmente criar uma estratégia eficaz para derrotar um determinado inimigo ou desenvolver um plano de ação para tomar uma fortaleza, por exemplo. Falo sobretudo dos quebra-cabeças engenhosos, daqueles que nos exigem meia hora para enfim atingir a solução e dos games que não apresentam hordas adversárias que precisam ser exterminadas.

Deparei-me há alguns dias com um post bem bacana do IndieGames.com que trata da relevância dos indies para o gênero Survival Horror. Já no segundo parágrafo, o blog cita uma entrevista do Gamasutra com o produtor de Resident Evil Revelations, Masachika Kawata, que teceu comentários justamente sobre a alteração do foco da franquia (outrora) de terror.

“Especialmente no mercado norte-americano, acho que a série precisa tomar essa direção [baseada na ação]. [Os jogos principais da série Resident Evil] precisam ser uma extensão das mudanças feitas em Resident Evil 4 e 5. […] Temos que nos manter nessa direção e levá-la um passo adiante”.

Isso me entristece sinceramente. Não é segredo que sou uma das viúvas dos RE clássicos para PS one e que gostaria que a franquia enveredasse por essa via. Não fiz pesquisa de mercado, portanto pode ser que eu esteja errado, mas será mesmo que não há mais um público amplo e pronto para consumir títulos com uma narrativa mais lenta, cadenciada, e acima de tudo, inteligente?

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Symphonic Fantasies Tokyo: as já conhecidas fantasias sinfônicas em interpretações mais que perfeitas na Terra do Sol Nascente


Por Alexei Barros

Por mais tempo que um indivíduo se dedique a uma determinada obra, sempre há espaço para melhorias. Quem é perfeccionista e vê o que foi feito anos depois, fica com vontade de mexer aqui, retocar ali e até, por que não, começar do zero. Isso em qualquer atividade. Nos videogames, esse aperfeiçoamento vem na forma das atualizações online. Na música e, especialmente, nas músicas orquestrais, o trabalho de aprimoramento é muito maior. Já imaginou ter que imprimir todas as partituras dos instrumentistas de novo? Pelo tempo e dinheiro que se gasta com isso, os polimentos são raros nos concertos de games.

Mas, quando o Symphonic Fantasies, originalmente executado em 2009 na Colônia, Alemanha, é frequentemente exaltado – “absoluto” e “impoluto” foram adjetivos frequentes quando me referi ao concerto e depois ao álbum publicado em 2010 –, logo você vai imaginar que a produção do espetáculo se acostumará com os elogios, repousando na confortável zona de conforto das reprises idênticas à primeira apresentação. Porém, nada disso aconteceu quando o Symphonic Fantasies foi mostrado em Tóquio em janeiro de 2012, récita esta registrada no álbum Symphonic Fantasies Tokyo, lançado em 11 de junho deste ano.

O impacto causado pelo Symphonic Fantasies foi muito grande há três anos. De uma só vez, o concerto revolucionou nas suítes gigantes (de cerca de 18 minutos), na transmissão em vídeo ao vivo para todo o mundo e na qualidade impecável da performance. Dessa forma, foram feitos convites para apresentações em outros países, e o próprio Nobuo Uematsu sugeriu levar o Symphonic Fantasies ao Japão. Mas, para chegar nesse nível, foram necessários 14 dias cheios de ensaios. Ter todo esse tempo livre nas agendas de orquestras pelo mundo não é comum.

Enquanto isso, graças ao êxito do Symphonic Fantasies, aconteceram mais dois concertos-tributo em Colônia: o Symphonic Legends, em homenagem à Nintendo, em 2010, e o Symphonic Odysseys, em reverência ao Nobuo Uematsu, em 2011. Ainda no ano passado aconteceu o LEGENDS, uma revisão do Symphonic Legends na Suécia que serviu para o produtor Thomas Boecker tirar a conclusão de que seria possível ter a mesma qualidade apresentada na Alemanha com apenas dois dias de ensaio. “A experiência em Estocolmo com LEGENDS me mostrou que, se as partituras forem bem-feitas e os músicos estiverem motivados e forem bons, vai funcionar”, disse antes da realização do Symphonic Fantasies em Tóquio. Além disso, os arranjos foram ajustados para otimizar a performance. “Quanto mais conhecimento o arranjador tiver, ele pode encontrar soluções para fazer soar bem sem ser MUITO difícil de tocar. Então é isso que vamos fazer. O tempo que vamos ganhar dessa forma será gasto para fazer soar ainda mais emocionante, mais bonito.”

Com isso, Boecker decidiu investir em 2012 no Symphonic Fantasies em Tóquio, no décimo ano consecutivo em que ele produz concertos de games, chegando ao país onde tudo começou. O primeiro dessa dezena, o First Symphonic Game Music Concert, em 2003, foi também primeiro espetáculo de game music fora do Japão. Para tanto, ele contratou a Tokyo Philharmonic Orchestra, a mais antiga orquestra de música erudita nipônica (formada em 1901), e o Tokyo Philharmonic Chorus, ambos recorrentes em álbuns e récitas de jogos eletrônicos. Benyamin Nuss no piano e Rony Barrak na darbuka voltaram ao palco e, no lugar do norte-americano Arnie Roth, o alemão Eckehard Stier assumiu a regência. Foram realizadas apresentações nos dias 7 e 8 de janeiro no Tokyo Bunka Kaikan, o mesmo local do Dairantou Smash Brothers DX Orchestra Concert. No primeiro dia, estiveram presentes Hiroki Kikuta (Secret of Mana) e Yasunori Mitsuda (Chrono Trigger e Cross) e, no outro, além dos dois, a mestra Yoko Shimomura (Kingdom Hearts). Para completar o quarteto de compositores da Square que haviam comparecido ao espetáculo em Colônia, só ficou faltando mesmo o Nobuo Uematsu.

Como o Symphonic Fantasies original já tinha sido lançado em CD na Europa e no Japão, não seria de esperar que a versão mostrada em Tóquio também fosse. Eis que inesperadamente em maio de 2012 o álbum Symphonic Fantasies Tokyo foi anunciado e em junho foi lançado – por enquanto, somente com publicação no continente europeu.

A principal diferença é que, enquanto o álbum do Symphonic Fantasies original condensava todo o concerto em um CD e deixava o segmento do bis para lançamento digital, o álbum do Symphonic Fantasies Tokyo cobre o espetáculo na íntegra, forçando a divisão do programa em dois discos. O primeiro, com a abertura e as suítes de Kingdom Hearts e Secret of Mana; o outro com as suítes de Chrono e Final Fantasy e o novo bis.

O encarte, com 20 páginas repletas de fotos das apresentações e perfis dos envolvidos, possui agora um prefácio assinado pelo Masashi Hamauzu, que não teve músicas executadas no concerto, mas vem se tornando cada vez mais frequente nas produções do Thomas Boecker. Aliás, só de ver o nome dele, já me deu vontade de que fosse feita uma suíte da série SaGa – obscura no ocidente, mas popular no Japão –, com os seus trabalhos no SaGa Frontier II e especialmente no Unlimited Saga. Mas essa vontade fica para uma próxima. Outra decisão que achei acertada foi a adoção do inglês no texto, dada a universalidade do idioma, visto que, no álbum gravado na Alemanha, a edição japonesa estava escrita na língua local e, na europeia, em alemão. O único ponto um pouco chato disso é a dificuldade de retirar o encarte da caixa do álbum, porque ficou bastante justo, no limite. Se você conseguiu tirar uma vez, é provável que não vai querer fazer isso de novo com medo de estragar o papel.

Uma grande vantagem do Symphonic Fantasies Tokyo em relação ao Symphonic Fantasies é justamente o fato de o concerto ter sido gravado no Japão. Como dito aqui tantas vezes, o público nipônico é extremamente acanhado e, verdade seja dita, educado. Uma plateia inteligente, que respeita a performance e quer apreciá-la, quer fazer valer o ingresso. Durante os dois CDs não há um pio sequer da plateia e nem mesmo aplausos ao final da execução de cada número, o que dá ao Symphonic Fantasies Tokyo a impressão de ter sido gravado em estúdio tamanho o silêncio. No CD do Symphonic Fantasies dá para ouvir, durante a execução do tema dos Chocobos, um “woow” proferido por um fã tresloucado. Hoje, esse cara deve estar muito por feliz por ter o grito eternizado e arranhado a perfeição da performance. Aqui não há nada disso, muito felizmente. Por isso… viva os japoneses!

Já adianto que, excetuando o Encore, todo o resto da seleção de músicas arranjadas é similar ao primeiro Symphonic Fantasies. Mesmo que continue achando que algumas faixas poderiam entrar (nada vai me tirar da cabeça que fez muita falta a “Danger” no Secret of Mana e talvez mais alguma música animada do jogo), não vou repetir tudo o que já falei. É tudo uma questão de comparações. Se na ocasião do concerto eu confrontei os arranjos orquestrais com as originais e no review do álbum coloquei frente a frente os arranjos da mixagem do CD com a versão transmitida, o cotejo agora será entre os dois álbuns. As novidades do Symphonic Fantasies Tokyo estão nas entrelinhas, nas interpretações, nas sutilezas, portanto vamos revisitar aos poucos, com calma, as histórias contadas pelas suítes no palco do concerto realizado na Terra do Sol Nascente.

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Quando éramos poliglotas

Por Gustavo Hitzschky

Não sei ao certo como foi que começamos a falar sobre CaveDays, jogo criado pelo Insolita Studios, mas fato é que meu amigo designer, incendiário e dançarino Glauber Kotaki há alguns dias me mostrou esse game no qual ele havia trabalhado. Ele não me pediu para jogar, simplesmente para ver um vídeo da jogabilidade e outro de uma cutscene. Foi o suficiente.

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Quebrando a quarta parede

Por Gustavo Hitzschky

Imaginemos um palco de teatro atual, com suas duas paredes laterais e o fundo. A chamada quarta parede é o muro imaginário que existe entre os atores e a plateia, e que é responsável por fechar essa espécie de caixa em que uma cena é realizada. A quebra da quarta parede acontece quando os artistas falam diretamente com o público e tomam conhecimento de seu caráter performático. Com o desenvolvimento de outras expressões artísticas, esse conceito se espalhou para as novas paragens e os jogos não foram excluídos. Nos videogames, a quebra da quarta parede pode ocorrer quando o personagem em que controlamos toma consciência de que se trata de um ser manipulado por uma terceira pessoa, nós, os jogadores.

The Fourth Wall, jogo desenvolvido por alunos do DigiPen Institute of Technology e que foi finalista do Indie Game Challenge (lamentavelmente sendo preterido em todos os quesitos para a minha tristeza) decidiu romper essa barreira de um modo diferente. Ou seja, não é que nosso personagem sabe que ele próprio se trata de um videogame.

Nesse puzzle-platformer, você começa controlando um garotinho que leva atrás de si uma trouxa de roupas e que abandona a cidade. Não se sabe o motivo, não há explicação. As coisas, aparentemente, estão pacíficas no vilarejo. À medida que avança, o personagem envelhece e os quebra-cabeças têm a dificuldade aumentada. Pois bem, o rompimento da quarta parede se dá da seguinte forma: ao apertar Ctrl, congelamos o deslocamento lateral desse game 2D e, se você caminhar para a direita, por exemplo, acaba aparecendo do outro lado. Caso caia em um buraco, em vez de morrer, surge na parte superior da tela. O trailer deixa tudo mais claro.

Essa movimentação estratégica pelo cenário é aliada à necessidade de recolher chaves para destrancar portas, desviar de canhões, lasers, pegar carona em plataformas, evitar lava e usar a impulsão proporcionada por pequenos animais semelhantes a porcos e atingir áreas elevadas. Tudo em cenários com poucas cores que não deixam de ser absolutamente imersivos.

Se não me engano, The Fouth Wall foi o primeiro que joguei da lista de finalistas do Indie Game Challenge porque o nome tinha chamado muito a minha atenção. Se quiser, faça um favor a si e dê uma chance a ele. O jogo está disponível para download grátis no site oficial.

Indie games e puzzle-platformers. Cada vez mais noto que essa combinação é prolífica e muito bem executada.

Benyamin Nuss Plays Uematsu: quando o prodígio encontra o mestre


Por Alexei Barros

É raro um pianista atuar simultaneamente em orquestras e bandas de jazz. Ainda por cima tão jovem. Quanto mais gamer! Benyamin Nuss é tudo isso com somente 21 anos de idade e logo em seu álbum de estreia homenageia um dos mais afamados compositores de jogos com a missão ambiciosa de introduzir game music aos apreciadores de música erudita.

Filho do trombonista Ludwig Nuss e irmão do pianista Hubert Nuss, ambos compositores e jazzistas internacionalmente conhecidos, Benyamin iniciou o aprendizado de piano com seis anos de idade, e a partir de então iniciou uma trajetória de sucesso sendo agraciado com diversos prêmios, ao mesmo tempo em que buscava se inspirar na técnica e interpretação de pianistas clássicos, como Sviatoslav Richter e Vladimir Horowitz, e na capacidade de improvisação de pianistas jazzísticos, como Chick Corea e Herbie Hancock.

Até aí pouca relação com jogos eletrônicos na música, ainda que tivesse crescido jogando videogames. Foi então que o administrador da WDR Radio Orchestra, Winfried Fechner, conversou com ele sobre o concerto Symphonic Shades, e Benyamin compartilhou a admiração por game music. Dias depois recebeu uma ligação para gravar a “Turrican 3 – Payment Day (Piano Suite)”, na versão que acabou registrada no CD por se aproximar do intento original do compositor Chris Huelsbeck. Tratava-se de uma interpretação mais incisiva que a versão suave da “Turrican 3 – Payment Day (Piano Suite)” tocada pelo Jari Salmela na apresentação.

Mais famoso entre os fãs de game music Benyamin ficou no sucessor Symphonic Fantasies em 2009, desta vez participando do espetáculo ao vivo, na suíte de 15 minutos “Fantasy I: Kingdom Hearts”, em que o piano ganhou um destaque especial no arranjo de Jonne Valtonen. Em 2010, no Symphonic Legends, demonstrou incrível entrosamento com o violinista Juraj Cizmarovic na “Donkey Kong Country (Aquatic Ambiance)” arranjada por Masashi Hamauzu, e também tocou no bis “Encore (Currendo. Saltando. Ludendo)”.

A notoriedade na Alemanha também em breve se estenderá ao Japão. Em 30 de outubro o pianista participará do evento Shinzo Kukaigi 5 e nos dias 6 e 7 de novembro do Distant Worlds music from Final Fantasy Returning Home, todos a acontecer em Tóquio, também para promover o lançamento japonês do disco, que se dará dia 27 de outubro. Isso que de setembro a novembro Benyamin Nuss excursiona por diversas cidades da Alemanha e Luxemburgo com performances do álbum de debute.

Publicado pela renomada Deutsche Grammophon (Universal Music), o disco Benyamin Nuss plays Uematsu foi produzido por Thilo Berg, baterista alemão, líder de big bands e administrador do pianista, com consultoria de Thomas Boecker, produtor executivo dos concertos Shades, Fantasies e Legends. São 15 faixas no total, gravadas nos dias 1, 2 e 4 de maio de 2010 no SWR Studio na cidade de Kaiserslautern. A seleção visitou Final Fantasy, Blue Dragon e Lost Odyssey, e contou com arranjadores de renome na game music e fora dela.

Shiro Hamaguchi é o arranjador da Piano Collections Final Fantasy VII, Piano Collections Final Fantasy VIII e Piano Collections Final Fantasy IX, e ficou encarregado de Lost Odyssey. Jonne Valtonen, autor do supramencionado arranjo de Turrican 3, de Blue Dragon. E Final Fantasy foi divido entre os menos versados em game music: Bill Dobbins, jazzista americano que dirigiu a WDR Big Band de 1994 a 2002, Torsten Rasch, alemão modernista que arranjou a ousada “Super Metroid (Suite: Samus Aran – Galactic Warrior)” do Symphonic Legends, e o russo Alexander Rosenblatt, compositor de piano. Para completar, Benyamin Nuss escreveu uma faixa em homenagem a Nobuo Uematsu e vice-versa. O encarte do álbum merece ser elogiado. Traz um breve comentário de Uematsu de cada uma das 15 faixas em japonês, alemão e inglês. Serviço completo.

Uma pena que o “Rad Racer Medley” de 10 minutos e meio de duração não coube no CD, que possui 68 minutos, e está disponível exclusivamente em formato digital na iTunes. Como é um jogo de corrida, proporcionaria variedade à supremacia de RPGs. O sample é promissor, ainda mais sabendo que o medley é arranjado por Francesco Tristano Schlimé, pianista luxemburguês que gosta de experimentações. Não bastasse a restrição, por enquanto, aos residentes na Alemanha por conta da limitação da loja virtual da Apple, o medley não pode ser comprado separadamente. Ou seja, quem adquiriu o álbum físico e quiser comprar a “Rad Racer Medley”, é obrigado a pagar os 9,99 dólares por todas as músicas.

Diante de tudo isso, finalmente os comentários faixa por faixa depois do Hadouken.
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Symphonic Fantasies: as fantasias reais eternizadas em um CD imaculado

Por Alexei Barros

Seis meses de arranjo e orquestração. Catorze dias de ensaios. Para pouco mais de 1 hora e 20 minutos de apresentação. Compensa tanto tempo e labor? Respondo com um decisivo sim (sem esquecer o processo de seleção de faixas, a parte burocrática de licenciamento e a fadiga dos instrumentistas e envolvidos). Vale não apenas pela experiência musical ímpar que se vivencia naquela hora – inesquecível para os 2000 espectadores in loco; memorável para tantos outros mundo afora –, como também porque agora o resultado do processo esmeroso ficou imortalizado em um disco para infindáveis apreciações.

Falo evidentemente do Symphonic Fantasies, concerto em homenagem à Square Enix que foi aclamado em diversas partes do planeta graças à inédita transmissão em streaming de vídeo, a ponto de ser elogiado pelos responsáveis de outras produções, como Tommy Tallarico, do Video Games Live, e Hiroaki Yura, do A Night in Fantasia. A fórmula inovadora delineada pelo produtor Thomas Boecker e idealizada pelo arranjador Jonne Valtonen de coadunar temas das mesmas séries em suítes longas de alto valor artístico se mostrou muito mais acessível do que se poderia imaginar para um público acostumado com arranjos presos aos temas originais, que é o que os concertos de games, em sua imensa maioria, costumam oferecer.

Tudo aconteceu no dia 12 de setembro de 2009, no suntuoso Philharmonic Cologne Hall na cidade de Colônia, Alemanha, com a performance da WDR Radio Orchestra Cologne, com aproximadamente 80 integrantes, e do WDR Radio Choir Cologne, formado por 40 coristas, sob a regência de Arnie Roth. Na plateia, estavam Yoko Shimomura, representando a série Kingdom Hearts; Hiroki Kikuta, Secret of Mana; Yasunori Mitsuda, Chrono Trigger e Chrono Cross; e, finalmente, Nobuo Uematsu, a série Final Fantasy.

Depois de rumores esparsos, o disco foi anunciado pelo administrador da WDR Orchestra, Winfried Fechner, em entrevista ao SEMO realizada em março de 2010. A data de lançamento foi veiculada pelo site da Amazon alemã inicialmente para dia 21 de maio com publicação da Sony Classical Germany. Todavia, tratava-se de um equívoco da loja virtual, que alterou a data para 31 de dezembro. Posteriormente ocorreu a revelação oficial para setembro, desta vez com o selo da Decca (Universal Music). Em seguida, o lançamento alemão foi precisado para o dia 24 e, numa decisão rara, adiantado para uma semana antes, 17 de setembro, pouco mais de um ano depois da realização do concerto. Dois dias antes, a Square Enix publicou o álbum no Japão com número de catálogo SQEX-10202.

O conteúdo musical é o mesmo, a diferença é o encarte. A edição germânica possui na capa um estiloso controle-violino de madeira, ao passo que a japonesa possui a imagem da lateral de uma espécie de enciclopédia com os nomes dos compositores em destaque. No livreto há perfis dos principais envolvidos, mas infelizmente a compreensão do texto é limitada aos entendedores dos dois idiomas locais. Um detalhe que poderia ser acrescentado são as letras em latim e tradução das suítes de Secret of Mana e Final Fantasy como foram escritas especialmente para o concerto de acordo com os universos dos respectivos jogos e séries. Cada suíte tem quatro faixas detalhadas (exatamente as anunciadas antes do concerto), e não seria muito pedir que fossem arroladas todas as músicas homenageadas – a ordem é impossível, eu sei, pelo menos a lista completa, ainda que na maioria dos álbuns a informação não seja divulgada oficialmente.

Apesar de planejado para ser executado ao vivo, o conceito do Symphonic Fantasies está muito mais de acordo com um álbum. Explico. Exceção à suíte de Final Fantasy, que segue formato mais simples de medley, ou seja, faixa A + faixa B + faixa C e assim por diante com devidas transições, as outras três suítes são quebra-cabeças, com idas e vindas, variações, sobreposições de melodias e alusões sutis. É impossível absorver tudo de primeira, por isso é um imperativo novas audições. Por que então ouvir o CD se as gravações estão no YouTube e afins?

Primeiro porque é muito mais recompensador possuir uma recordação material de um espetáculo histórico e caprichado como o Symphonic Fantasies, e outro porque a qualidade está ainda melhor, acredite você, como se não bastasse a perfeição da transmissão ao vivo. Editada e mixada no WDR Radio Studios, a gravação passou pelo crivo do arranjador e dos quatro compositores e foi masterizada no Abbey Road Studios. Parece gravado em estúdio pela nitidez de som estonteante, e só se percebe que é ao vivo pelos aplausos no final de cada um dos cinco números e pelos risos ao fundo acompanhado de um “woow!” de um infeliz da plateia quando é tocado o tema dos Chocobos.

Falei cinco números. O sexto, “Encore (Symphonic Fantasies)”, que era um medley convencional de oito minutos com quatro temas de batalha contra chefe, acabou não cabendo no CD e está somente disponível na versão digital. Embora preferisse dois discos para que fosse registrada a experiência do concerto em sua plenitude, não é uma ausência vital. Não deixa de ser uma decisão ousada, visto que a miscelânea acabava com a “One-Winged Angel”, e não é todo dia que sai um álbum de um concerto relacionado com Final Fantasy sem o tema considerado muitas vezes pelos fãs casuais como obrigatório.

Posto isso tudo, revisitei a abertura e as quatro suítes com o perdão da sua paciência porque há muitos detalhes que vieram à tona com a mixagem do CD. Não mencionei novamente as músicas que senti falta ou então comparei com outros arranjos. Seria redundante, sem falar que um ano depois, passo a compreender a ausência de algumas, porque cada segmento possui a própria vibração e complementa o outro no contexto do concerto, em uma escala gradativa. Foi tudo planejado e equilibrado para não enfastiar ou cansar os ouvidos no decorrer das suítes e na récita como um todo.

Depois do Hadouken você também pode conferir no Goear as suítes nas versões do álbum, mas fica o aviso: nada se compara ao CD, que está superior evidentemente. Um concerto com semelhante perfeição de performance suplica para ser apreciado na melhor qualidade possível.

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