
Por Alexei Barros
Quando os concertos e álbuns orquestrados de game music começaram a se popularizar no Ocidente na década passada, eram poucos os nomes que se aventuravam nesse nicho. Hoje, entre tantas iniciativas amadoras e profissionais, a quantidade de produções deve ter triplicado. Dessa nova safra, destacam-se os álbuns The Greatest Video Game Music, cujo segundo volume foi lançado em novembro de 2012.
A track list a mim muito chamou a atenção. Castlevania, Street Fighter II, Sonic e Super Metroid são nomes que de cara me fazem arregalar os olhos. Mas… nem tudo saiu como esperado. Eu sempre disse aqui que a Nintendo e a Square Enix são as empresas mais chatas para liberar as licenças das músicas em coletâneas com jogos de outras produtoras, certo? Pois, se agora as duas não causaram nenhum problema – o álbum inclui faixas de The Legend of Zelda: The Windwaker, Luigi’s Mansion e Super Metroid da primeira e Final Fantasy VII, Chrono Trigger e Kingdom Hearts II Final Mix + da outra –, desta vez foram as donas Capcom e Konami que deram para trás, conforme noticiado pelo IGN. Resultado: diferentemente do divulgado, nada de Castlevania, Street Fighter II e também Metal Gear Solid 3 no álbum. Muito estranho se considerarmos que o Video Games Live Level 2, lançado em 2010, tem músicas de Mega Man e Castlevania.
Elucidada essa questão (ou não, já que o motivo não ficou claro), a track list conta com um generoso número de faixas: 17, garantindo uma boa variedade de estilos, jogos e produtoras. Quanto às seleções de músicas, ao mesmo tempo em que o álbum foge de temas mais manjados, também tromba com as músicas mais mastigadas do universo. Por exemplo: a seleção mais óbvia do Skyrim seria a “Dragonborn”, não seria? Em vez disso, tem a “Far Horizons”. Kingdom Hearts: “Hikari” seria o mais lugar-comum. No lugar, há a “Fate of the Unknown”. Enquanto isso, o álbum traz novos arranjos da “One-Winged Angel” e a “Main Theme” do Chrono Trigger como se eles fossem necessários (até porque não superaram arranjos mais consagrados).
Outro problema recorrente, esse presente no primeiro álbum, é a inclusão de faixas já orquestradas em suas trilhas originais, como é o caso da citada “Fate of the Unknown”. Para quê? Por isso, vou me dar o direito de abordar apenas os números que julguei mais interessantes para serem comentados, infelizmente apenas 4 das 17 faixas: dois medleys inéditos e dois arranjos de faixas sintetizadas. Ah, pode parecer que dei preferência para os jogos japoneses, mas não parece não: dei preferência mesmo.
03 – “Legend of Zelda – The Wind Waker: Dragon Root Island”
Original: “Dragon Root Island”
Esta aí uma escolha totalmente fora dos padrões, tanto o jogo como a música, mas que faz sentido, como a faixa original era sintetizada. Começa no violão, depois vai para as cordas em toda a sua majestade. Mais para frente, o piano dá uma quebrada na música, quando parece entrar, creio, o som de um bandolim e, logo em seguida, um saxofone. As cordas retornam num crescendo até confluir no apoteótico retorno de todos os instrumentos. Se não é a mais estrondosa performance de Zelda, ao menos fugiu do básico – básico que já constava no álbum anterior, a batida “Legend of Zelda: Suite”.
07 – “Sonic the Hedgehog A Symphonic Suite”
Originais: “Title” ~ “Super Sonic” ~ “Casino Night Zone” ~ “Sky Chase Zone” ~ “Aquatic Ruin Zone” ~ “Hill Top Zone” ~ “Title” (Sonic the Hedgehog 2)
Considerando que o arranjo “Sonic the Hedgehog: Staff Credits” feito pelo Richard Jacques para o Video Games Live é, não tem jeito, insuperável, não precisaria nem tentar fazer algo melhor: bastava seguir para o Sonic 2. Mesmo que o nome da faixa não diga isso, a suíte abrange sim faixas da sequência. Só que quem fez o arranjo devia estar morrendo de sono: a peça é de uma monotonia ímpar, parada demais, nada a ver com a velocidade sugerida por qualquer coisa relacionada ao Sonic.
Vamos ver música por música. Depois da “Title” em uma rendição toda pomposa, surge não a “Emerald Hill Zone”, que seria a melhor escolha, mas a “Super Sonic” nos xilofones, nos clarinetes e nas flautas sem a metade da empolgação da original. Abruptamente (ruim a transição), nasce a “Casino Night Zone” muito suavemente, com acompanhamento da bateria e melodia tocada pelo clarinete e depois pelo trombone. Para dormir de vez, a “Sky Chase Zone” é tocada, quase parando. O solo de violino tristonho transita a suíte para a “Aquatic Ruin Zone”, quando você imagina já o Sonic chorando de tristeza. Inesperadamente, a percussão dá uma animada em um raro trecho com cara de Sonic, com direito a solo de saxofone e um baixo elétrico mais incisivo. Piano e xilofone alternam rapidamente na breve alusão à “Hill Top Zone” e, em um crescendo, a “Title” termina essa agonia. Além de sonífero, o arranjo ignora completamente a “Emerald Hill Zone” e a “Chemical Plant Zone”, que para mim são as mais icônicas do Sonic 2. Uma lástima.
09 – “Luigi’s Mansion: Main Theme”
Original: “Luigi’s Mansion”
Talvez para embarcar no anúncio do Luigi’s Mansion: Dark Moon e na representação do jogo no Wii U, o álbum resgata a música desse jogo que nunca foi orquestrada e provavelmente nunca apareceria em um concerto – se já é muito sonhar com Mario Kart, que é bastante popular, imagine Luigi’s Mansion. O arranjo me faz lembrar muito algum tema de desenho animado (da Disney?), deixando um clima de suspense e terror, mas, no fundo, fundo, tudo aquilo não passa de uma brincadeira, mesmo que sem o Luigi murmurando a música como na versão do jogo. Mas a coisa fica (um pouco) mais séria com o coral, que chega rasgando e depois volta em um momento grandioso da performance.
11 – “Super Metroid: A Symphonic Poem”
Originais: “Theme of Super Metroid” ~ “Opening (Destroyed Science Academy Research Station)” ~ “Brinstar – Red Soil Wetland Area” ~ “Maridia – Rocky Underground Water Area” ~ “Theme of Super Metroid” ~ “Opening (Destroyed Science Academy Research Station)” ~ “Samus Aran Appearance Fanfare” ~ “Theme of Super Metroid”
Se antes só existia o medley do OGC4, de uma hora para outra, todo mundo quis apresentar um arranjo do Super Metroid, o que é curioso, pois poderiam também dar mais espaço para o primeiro Metroid e a trilogia Metroid Prime. Além do Symphonic Legends e LEGENDS (em arranjos diferentes, o primeiro do Torsten Rasch e o outro do Jonne Valtonen), recentemente a turnê Play! A Video Game Symphony também apresentou uma (boa) versão. Mesmo com essa fartura, ainda não dá para nem começar a falar de alguma saturação de Metroid, pois o jogo sempre ficou atrás de Mario e Zelda nos concertos (e ainda falta o Press Start mostrar o seu arranjo).
“Theme of Super Metroid” foi usada para abrir o poema sinfônico e não causa o mesmo impacto para quem já conhecia a versão do OGC4. Mas o trecho correspondente à “Opening (Destroyed Science Academy Research Station)”, na tela-título, é brilhante, com todos os ruídos fielmente reproduzidos e o clima de ficção científica estabelecido no ar. Muito sutilmente, em uma transição perfeita, essa faixa vai para a “Brinstar – Red Soil Wetland Area”, que cresce de uma maneira contagiante. Para dar aquela acalmada, nada melhor do que um tema de um ambiente aquático, e, nesse caso, o clarinete mergulha na “Maridia – Rocky Underground Water Area”. A harpa lembra a “Theme of Super Metroid”, o piano a “Opening (Destroyed Science Academy Research Station)” e a “Samus Aran Appearance Fanfare” anuncia a chegada da Samus, primeiro com as mulheres, depois os homens em uma rápida participação do coral e mais uma vez com as madeiras. Fechando o arco, tem a “Theme of Super Metroid” vindo com tudo. No fim das contas, é uma peça admirável, a que mais me agradou do álbum, conseguindo transmitir por meio da orquestra a alma sonora de Super Metroid. (É capaz que eu tenha me perdido ou me esquecido de alguma faixa e, caso você tenha reparado em um erro, por favor grite nos comentários.)
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