Por Alexei Barros
Sonic 4, Super Mario Galaxy 2… já virou epidemia as trilhas sonoras vazarem antes do lançamento. Outro que padeceu do mesmo mal, e que demorei meses para comentar aqui, é o Final Fantasy XIV, justamente o episódio em que Nobuo Uematsu volta ao cargo de compositor solo da série. Rumores apontam que as músicas foram indevidamente ripadas da versão alpha do MMORPG em abril, quando diversos jogadores espalhados pelo mundo tiveram a oportunidade de testá-lo, cerca de 10% do total jogável.
Tratada por alguns como desastre absoluto, desrespeito ao Uematsu, tragedia e outras tempestades em copo d’água, não acredito que a escapada atrapalhe em alguma coisa a vendagem do jogo e do álbum da trilha sonora mais do que complica a distribuição digital das músicas. Achei exageradas as opiniões. Além do mais, as faixas, que totalizam pouco mais de três horas, estão desordenadas, identificadas por letras e números e cortadas de maneira abrupta, nada que substitua a verdadeira Original Soundtrack. Mas é inegável que dá para ter uma ideia superficial do que o Uematsu preparou para o jogo.
De cara dá para dizer que a trilha é bastante eclética, quase como um resumo autobiográfico, com celta, erudito, folclórico, rock… e buscando o novo. Fiquei surpreso pelo flerte pelo jazz, um gênero que no meu entendimento o Uematsu nunca apresentou muita desenvoltura tanto quanto Noriyuki Iwadare, Yoko Kanno ou Yuzo Koshiro. Isso reforça a minha ideia de que Uematsu esteve amarrado à falta de criatividade do seu amigo bigodudo Hironobu Sakaguchi em Blue Dragon e Lost Odyssey em termos de ousadia, não qualidade.
Desde o Final Fantasy VIII, o jogo é norteado por um tema interpretado por uma cantora oriental (todas japonesas, exceção à primeira, a chinesa Faye Wong), tradição que foi estendida ao remake do FFIV para DS e teve um desvio pelo uso inadequado da “My Hands” no FFXIII ocidental. Mas o costume foi quebrado. Confirmando os boatos, o tema que aparentemente é o de abertura, é cantado, se os meus ouvidos não mentem, pela norte-americana Susan Calloway, que vem acompanhando Uematsu e Arnie Roth nas apresentações da turnê Distant Worlds e registrou a sua maravilhosa voz nas performances vocais dos dois álbuns. Lembra a “Memoro de la Stono ~ Distant Worlds” do FFXI, mas muito mais ousada, com banda de rock e tudo mais.
Apesar de todos os esforços, pode me chamar de chato, anti-Uematsu, saudosista desenfreado e defensor ferrenho da era FFI-VI. Não me lembro de ter ficado tão empolgado com as músicas tanto quanto o FFXIII, por exemplo. Observação à primeira vista, nada definitivo. Porém, algo que me deixou um pouco mais animado, uma constatação muito bem observada pelo Fabão, é que dá para sentir uma influência do FFIV na melodia de certos temas.
Como ninguém compartilhou as faixas no YouTube, e se fez provavelmente devem ter sido apagadas, publiquei no Goear apenas as que ilustram melhor a diversidade que comentei acima, sem querer falar muito mais, porque espero fazer um post mais detalhado quando a trilha de verdade for lançada.
– “OB”: a primeira reminiscência de FFIV.
– “10”: surpreendente e envolvente jazz.
– “11”: rock e coral… não é nada parecido com OWA.
– “13”: uso muito bem apropriado do violino com uma música acelerada.
– “15”: guitarrona poderosa à moda dos Black Mages.
– “1B”: introdução lembra a “Battle 1” do FFIX.
– “1C”: “Prelude” na versão FFXIV, com piano e coral.
– “1D”: o supracitado tema com coral e a Susan Calloway.
– “20”: do tribal para o rock.
– “25”: música de ambiente bem agradável.
– “26”: o celta vem à tona, com piano.
– “27”: continua a anterior, introduzindo violão e coral.
– “2F”: centrada na guitarra com distorção, é fantástica.
– “32”: flauta encantadora.
– “34”: experimentalismo minimalista.
– “37”: Masashi Hamauzu participou do FFXIV e ninguém ficou sabendo?
– “38”: sinfônica e pomposa, à la Hitoshi Sakimoto.
– “39”: até Final Fantasy imitando Monster Hunter.
– “3B”: música progressiva, que adquire grandes proporções.
– “3C”: de novo puxando para o folclórico.
– “40”: versão excelente do tema dos Chocobos; não supera FFXIII.
– “41”: Voltamos aos castelos de FFIV. Ou seria FFVI?
– “4B”: tema mais cômico com cheiro de 16-bits.
– “4D”: mais jazz, quase bossa nova.
– “4E”: talvez o tema dos créditos. Sublime.
– “4F”: nova versão da “Fanfare” que nada tem a ver com a antecessora.
Gostei de escrever os comentários sucintos, bem mais prático. Começo a achar que deveria ter feito o mesmo para as 72 faixas.
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