Distant Worlds music from Final Fantasy 2023: um sonho distante que enfim virou realidade no Brasil

O nome da turnê é uma referência à música homônima “Distant Worlds”, tema de encerramento da expansão Chains of Promathia de Final Fantasy XI cantado originalmente por Izumi Masuda – Foto: Rafael Strabelli

Por Alexei Barros

Iniciada em 2007 por ocasião do aniversário de 20 anos da série Final Fantasy, a turnê Distant Worlds produzida pelo maestro Arnie Roth enfim aterrissou em território brasileiro em 2023 com uma apresentação em São Paulo no dia 28 de setembro e outra no Rio de Janeiro em 1 de outubro. Por muitos anos, eu achava que isso seria quase impossível, mas comecei a ficar mais otimista a partir do Piano Opera 2016 por causa da inacreditável vinda de Nobuo Uematsu ao Brasil. Foram mais sete anos para virar realidade – 16 anos de espera no total!

Por mais que o país tenha milhares de jogadores e o mercado nacional esteja cada vez mais consolidado, o fato de o Brasil ser subdesenvolvido parecia ser um elemento determinante para ficar fora da rota dessas apresentações que costumam acontecer na América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. Afinal de contas, devem ser levados em conta custos elevados de produção, viabilidade comercial para todos os envolvidos, espaço na agenda das casas de espetáculo, datas para ensaios da orquestra local etc. Porém, no caso do Distant Worlds, havia um agravante: a turnê já tinha visitado dois países da América do Sul na década passada: Argentina em 2013 e Chile em 2014. Para completar, o Brasil, mais especificamente São Paulo, teve em 2018 o Kingdom Hearts: Orchestra e, em 2019, o Kingdom Hearts Orchestra – World of Tres- (este com presença da Yoko Shimomura!). Ou seja, se havia público brasileiro para concertos tão específicos assim de uma série da Square Enix – ainda que com o apelo turbinado pela popularidade dos filmes da Disney –, como era possível a turnê da mais famosa franquia da gigante dos RPGs nunca ter vindo ao país? Ao menos, vontade não faltava. “Na verdade, temos tentado trazer o Distant Worlds para o Brasil há anos! Estou muito feliz por finalmente estarmos nos apresentando no Brasil!”, afirma Arnie Roth em declaração ao site Final Fantasy Brasil. Sergio Murilo Carvalho, diretor da Conexão Cultural, empresa que viabilizou a visita da turnê, revelou em entrevista para o IGN Brasil que as negociações começaram em 2016 ou 2017, mas a agenda apertada do Distant Worlds dificultou o processo. Era claro que havia uma demanda enorme para isso, pois o anúncio dos espetáculos no país aconteceu no dia 6 de julho, e dois meses depois os ingressos do Espaço Unimed em São Paulo quase esgotaram – apesar de que no Jeunesse Arena no Rio de Janeiro deu para ver muitos assentos vazios. Belo Horizonte e outras praças chegaram a ser discutidas, mas não puderam por falta de datas livres da turnê, que tem um concerto marcado em Singapura para o dia 6 de outubro.

Antes da récita, ao conferir o site oficial do Distant Worlds, eu fiquei cético com um aspecto: “O vencedor do Grammy, Arnie Roth, conduz a Orquestra Sinfônica Villa Lobos e coro – mais de 100 músicos no palco tocando as amadas músicas de Nobuo Uematsu, Masayoshi Soken e muitos mais”. O site do Cine in Concert foi mais específico, falando em “90 músicos e 32 coralistas”. O motivo da preocupação: a Villa Lobos era justamente a orquestra que tocou na maioria das apresentações do Video Games Live no Brasil, incluindo o VGL 2009 (na qual eu contabilizei cerca de 25 instrumentistas e 15 coristas), além do já citado Kingdom Hearts Orchestra – World of Tres- (que eu não pude comparecer). Felizmente, meu pessimismo foi embora ao visualizar várias fileiras de cadeiras em cada lado do palco e seis contrabaixos apoiados no chão, sendo possível constatar que a Villa Lobos estava em sua formação completa ou então foi reforçada para a ocasião. Se não foram exatamente 90 instrumentistas, provavelmente foi um número perto disso. E devo dizer que a performance da Villa Lobos foi muito competente. Posicionado à esquerda do palco, o Coral Lírico Villa Lobos (cujo nome eu só ouvi no anúncio de Arnie Roth na apresentação e não vi no material de divulgação), foi bem ensaiado e estava em bom número (30 pessoas), mas não tinha uma potência vocal avassaladora, o que é esperado pela faixa etária mais jovial dos coristas que foram selecionados dentre mais de mil candidatos.

Como não se tratava de uma sala de concerto com tratamento acústico, os instrumentos e coristas foram microfonados. Eu ouvi alguns leves esbarrões nos microfones em dados momentos, mas nada que comprometesse a performance que, diferentemente do VGL que usa playback como suporte, foi 100% realizada ao vivo. Considerando que as partituras que foram tocadas não são extremamente desafiadoras e não exigem virtuoses (como seria, por exemplo, o pianista da “Final Battle” do FFX), bastava que os números fossem devidamente ensaiados por esses músicos – em cada cidade, quem comprou o ingresso podia assistir ao ensaio final realizado horas antes da apresentação sem custos adicionais.

Falando do que o Distant Worlds costuma oferecer pelo mundo, não participou a cantora Susan Calloway, que é responsável por muitos dos solos vocais de músicas da série nas apresentações da turnê, exceção feita para algumas ocasiões excepcionais em que as cantoras originais estão presentes ou em raras vezes em que ela é substituída por outras artistas. De cara isso excluiu a possibilidade de serem tocadas sete canções do repertório: “Eyes on Me”, “A Place to Call Home ~ Melodies of Life”, “Suteki da ne”, “Memoro de la Stono ~ Distant Worlds”, “Kiss Me Good-Bye”, “Answers” e “Dragonsong” – as duas últimas é a própria Susan Calloway que canta, respectivamente, nas trilhas de FFXIV e FFXIV: Heavensward (há ainda a “Revolutions” do FFXIV: Stormblood, que ela interpretou ao vivo no Final Fantasy XIV Orchestra Concert 2019 -Eorzean Symphony-, mas essa música por ora não foi tocada no Distant Worlds). Por exigir um barítono, uma mezzo-soprano e um tenor aptos para a execução da Opera “Maria and Draco”, essa performance seria bem mais complexa e, por isso, esse número aparece apenas em situações mais específicas – a última delas foi em agosto de 2023 em Los Angeles. Em outros casos, certas músicas pedem instrumentos que nem sempre fazem parte da orquestra, como o órgão na “Dancing Mad” ou o violão na “Vamo’ alla flamenco”. Apesar da ausência de cantores ou de músicos desses instrumentos, eu não fiquei com a sensação de que a apresentação brasileira foi uma mera caricatura dos Distant Worlds realizados nos demais países – muito pelo contrário. Já volto a falar do set list.

Arnie Roth conheceu Nobuo Uematsu no concerto More Friends music from Final Fantasy, realizado em Los Angeles em 2005 – Foto: Rafael Strabelli

Se há um protagonista no evento, este é Arnie Roth – aliás, fiquei pasmado quando me dei conta de que ele está com 70 anos! Depois de vê-lo na regência de diversas orquestras nos mais variados concertos de games, como no início da turnê Play! A Video Game Symphony e especialmente nas transmissões ao vivo em vídeo do Symphonic Fantasies (2009) e Symphonic Odysseys (2011), enfim pude ver sua atuação no Brasil. Cumprindo a dupla função de mestre de cerimônias e maestro, Roth é carismático e consegue ser descontraído sem exagerar na dose. Após a saudação inicial em português, Roth fez toda a apresentação em inglês, anunciando em diferentes momentos do programa os blocos das próximas duas ou três músicas que seriam tocadas e citando alguns dos compositores e jogos de cada peça.

Mas agora começam minhas críticas. O local escolhido para o Distant Worlds em São Paulo foi o Espaço Unimed, antes conhecido por Espaço das Américas e que também sediou o Kingdom Hearts Orchestra – World of Tres-. Próxima da estação de metrô Palmeiras-Barra Funda, a casa de espetáculos apresenta uma boa localização. Porém, ao entrar, para o meu gosto, achei o interior muito mal iluminado. No mesmo espaço era possível comprar álbuns do Distant Worlds, trilhas da série Final Fantasy e camisas, tudo por preços não muito convidativos, com um detalhe: apenas com dinheiro vivo. Ao menos, a lista de produtos e essa forma de pagamento foram anunciados previamente, permitindo que os interessados se preparassem para esses detalhes. Agora… O que eram aquelas cadeiras? Além de estarem muito próximas umas das outras, as cadeiras eram pequenas, estreitas e extremamente desconfortáveis. Considerando o preço elevado dos ingressos, que iam de R$ 50 a R$ 400, eu acho que o público merecia algo melhor para se acomodar. Coitadas das pessoas que chegaram atrasadas, pois com as luzes apagadas era bem difícil achar o lugar marcado no ingresso.

E eu preciso elogiar o comportamento do público, o que temia com um espetáculo que projetasse imagens de jogos no telão que não fosse o Video Games Live. Felizmente, a plateia realmente esperava as músicas acabar para se manifestar. Os poucos momentos que ouvi algo mais acalorado aconteceu durante as execuções da “Phantom Forest – Phantom Train – The Veldt” (risadas no momento em que Sabin aplica um Suplex no Phantom Train no vídeo do telão) e “At Zanarkand” (alguns “uh” na introdução), mas nada comprometedor. Ou seja, ficou para trás a ameaça da torcida que tenta acompanhar qualquer música com palmas ou grita com a simples aparição de um logo em um telão como acontecia com muita frequência no VGL.

Falando nisso… havia cinco telões: o principal e maior, no centro do palco, dois nas laterais e mais dois atrás. Durante a execução das músicas, foram mostrados vídeos em boa qualidade dos jogos, com mais CGs do que trechos de gameplay. No momento em que Arnie Roth falava, uma câmera ficava no maestro de uma tomada lateral e outra câmera pegava o palco com uma visão superior. Como já disse em outras oportunidades, não acho que telões sejam essenciais, mas seria muito mais interessante que apenas o telão principal exibisse as cenas dos jogos e deixasse os telões auxiliares para focar nos instrumentistas da orquestra, mesmo que não fosse uma gravação precisa, com cortes para cada músico que estivesse tocando. O pianista, que desempenha papel importante em várias músicas, como na “At Zanarkand”, estava meio escondido no palco.

Enfim chego ao set list. O site oficial havia adiantado nove números que seriam tocados, sendo que três apareceram no primeiro ato e seis no segundo. Os 11 restantes foram surpresas – menos para quem viu o ensaio final. Uma vantagem, por assim dizer, de o Distant Worlds nunca ter vindo antes ao Brasil, é que quaisquer fossem as seleções do programa, tudo seria novidade. Eu já achava músicas como “Liberi Fatali”, “Aerith’s Theme”, “At Zanarkand” e “One-Winged Angel” manjadas em 2007, lá no início da turnê, mas eu compreendo plenamente que para uma primeira visita no país essas faixas eram obrigatórias. Apesar disso, o set list também incorporou novidades mais recentes de jogos modernos, incluindo FFVII Remake e as expansões de FFXIV. Excluindo as continuações diretas FFX-2, FFXIII-2 e Lightning Returns: FFXIII, todos os jogos numerados da série principal estiveram representados no programa, com exceção de dois: o recém-lançado FFXVI e, para surpresa de ninguém, FFXII, que segue (injustamente) como um dos jogos mais negligenciados em concertos da franquia. Como fã mais nostálgico da série, eu senti falta de mais músicas das eras NES e SNES – para piorar, eu tenho ressalvas justamente com os dois números pré-FFVII do set list. Mas tudo bem, não dá para agradar todo mundo e entendo o domínio de jogos mais populares, sobretudo FFVII, que ganhou três faixas do original e mais duas do Remake.

Da maneira geral, em termos de estilos, o programa ficou bem equilibrado com músicas mais grandiloquentes, temas de combate mais acelerados e composições mais calmas ou emotivas – e olha que nem foram tocadas as canções pop como já comentei. O uso de faixas de outros compositores, em especial as do Masashi Hamauzu, garantiu que o set list ficasse diversificado. Eu fiquei com a sensação de que o segundo ato teve uma duração menor do que o primeiro, mas posso estar equivocado. Também farei comentários mais específicos sobre cada faixa, porém não espere por algo tão detalhado, pois muitos números são amplamente conhecidos.

Ato I

01 – “Prelude” (Final Fantasy)
Original: “Prelude”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: Voices music from Final Fantasy

Soa até um pouco clichê começar com a “Prelude”, já que a composição também é muito usada no início de medleys e suítes da série, mas, mais uma vez, não tinha como ser diferente. Uma rara exceção é o Final Fantasy Symphonic Suite (1989), em que ela é a segunda música de um medley (a quinta faixa). A harpa e o coral ajudaram a preparar o ambiente para o que viria no programa.

02 – “Liberi Fatali” (Final Fantasy VIII)
Original: “Liberi Fatali”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: 20020220 music from Final Fantasy

Repetindo a sequência das duas primeiras músicas do Voices (que também foi regido por Arnie Roth), o tema da CG de abertura de Final Fantasy VIII estava previsto no site e veio em seguida para impactar, já que muito apropriadamente a faixa foi tocada logo após a “Prelude”, sem Roth falar nada. Gostei que o público não se apressou para aplaudir quando o coral para de cantar, permitindo a plena apreciação daquele final incrível nas cordas dessa música que é a primeira totalmente orquestrada da série e que foi executada como é ouvida no jogo.

03 – “Victory” (Final Fantasy)
Original: “Victory”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Arnie Roth e Eric Roth
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy 2009 em São Francisco, EUA

Durante a saudação inicial de Arnie Roth, o tema da vitória apareceu com coral e orquestra neste número mais descompromissado. Além de ter apenas poucos segundos, ficou redundante com o medley do segundo ato, que inclui ainda a melodia que vem na sequência.

04 – “Aerith’s Theme” (Final Fantasy VII)
Original: “Aerith’s Theme”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: 20020220 music from Final Fantasy

Fico feliz em saber que as músicas do FFVII original continuam sendo tocadas mesmo com todas as atenções voltadas para o Remake, utilizando o muito competente arranjo de Shiro Hamaguchi feito para o álbum Final Fantasy VII Reunion Tracks. A partitura explora toda a ternura da melodia do tema da Aerith – e olha que a versão do Remake também é excelente.

05 – “Blinded By Light” (Final Fantasy XIII)
Original: “Blinded By Light”
Composição: Masashi Hamauzu
Arranjo: Masashi Hamauzu
Estreia: Distant Worlds: music from Final Fantasy Returning Home 2010 em Tóquio, Japão

Neste número a coisa começou a ficar séria. Eu me surpreendi com a reação explosiva do público quando Roth anunciou que o tema de combate de FFXIII seria executado. Na época em que o jogo foi lançado em 2009, eu fiquei com a impressão de que a espetacular trilha sonora do FFXIII não foi tão aclamada quanto merecia – para mim, isso se deveu muito ao fato de as músicas não terem a assinatura do Nobuo Uematsu. Como comentei outras vezes, o arranjo não conta com o solo de violino e a guitarra da original, explorando mais cordas e também os metais para tocar a sua melodia alucinante. E eu achando que nunca ouviria uma composição do Masashi Hamauzu ao vivo… Por certo, o meu segmento favorito de toda a apresentação.

06 – “Roses of May” (Final Fantasy IX)
Original: “Roses of May”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Hiroyuki Nakayama
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy 2014 em Londres, Inglaterra

Tema da General Beatrix, a música que era um solo de piano na faixa original ganhou uma roupagem orquestrada. O autor do arranjo é justamente o instrumentista do Piano Opera, Hiroyuki Nakayama, que fez um bom trabalho nesta peça que proporcionou uma clima leve e agradável com o piano em destaque.

07 – “Triumph” (Final Fantasy XIV: Stormblood)
Original: “Triumph”
Composição: Masayoshi Soken
Arranjo: Kenichi Kuroda
Orquestração: Sachiko Miyano
Estreia: Final Fantasy XIV Orchestra Concert 2019 -Eorzean Symphony-

Não foi tão alto como do FFXIII, mas também me impressionou a quantidade de fãs brasileiros do FFXIV que urraram com a presença do MMORPG no programa. Outra música que constava no site oficial, este é o tema de combate dos últimos chefes das dungeons da expansão Stormblood. O coral não participa em todo o momento, porém entoa versos em inglês durante a empolgante peça de Masayoshi Soken. O arranjo estreou em um dos muito bem produzidos concertos específicos de FFXIV realizados no Japão e foi importado para o Distant Worlds.

08 – “Balamb Garden ~ Ami” (Final Fantasy VIII)
Original: “Balamb Garden” ~ “Ami”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy the Journey of 100 2015 em Tóquio, Japão

Para este número, Arnie Roth compartilhou uma curiosidade interessante que na verdade foi um puxão de orelha na Square Enix. A turnê Distant Worlds pretendia tocar o arranjo e solicitou a partitura à produtora, que não sabia do paradeiro dos papéis, então eles decidiram transcrever a gravação. Roth não citou na hora, mas trata-se da performance com arranjo orquestral de Shiro Hamaguchi que está registrada no álbum FITHOS LUSEC WECOS VINOSEC: Final Fantasy VIII. É de fato curioso que isso tenha acontecido especificamente com esse disco lançado em 1999, pois outros arranjos desse álbum já foram executados ao vivo. Como a música toca em várias áreas na exploração de Balamb Garden logo no início do jogo, o singelo tema é facilmente reconhecível para quem jogou pelo menos algumas horas de FFVIII. A “Ami” compartilha o mesmo motivo e foi usada como uma variação.

09 – “APOCALYPSIS NOCTIS” (Final Fantasy XV)
Original: “APOCALYPSIS NOCTIS”
Composição: Yoko Shimomura
Arranjo: Yoko Shimomura e Sachiko Miyano
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy 2017 em Newark, EUA

Mesmo que o tema de combate contra o chefe Titan siga o padrão “música pomposa com coral em latim” do Nobuo Uematsu, é possível perceber o toque mágico da Shimomura para músicas nesse estilo que inclusive está presente na série Kingdom Hearts em faixas como a “Destati”. Depois da entrada impactante do coro, há um intermédio instrumental nas cordas que me faz lembrar a “Nerevar Rising” de The Elder Scrolls III: Morrowind cuja melodia ficou mais conhecida na extremamente popular “Dragonborn” de The Elder Scrolls V: Skyrim, mas talvez seja assunto para uma próxima. A peça é bem enxuta, com um pouco mais de dois minutos de duração, e é bastante exigente para o coral, mostrando que os ensaios foram produtivos.

10 – “Stand Up” (Final Fantasy VII Remake)
Original: “Stand Up”
Composição: Mitsuto Suzuki e Nozomi Toki
Arranjo: Mitsuto Suzuki
Estreia: Final Fantasy VII Remake Orchestra World Tour 2021 em Tóquio, Japão

Composição feita especialmente para o FFVII Remake no show no Honeybee Inn e inexistente no jogo original, a faixa estilo “musical da Broadway” dá uma bela quebrada no padrão de músicas eruditas com coral do restante do programa e havia sido adiantada no site oficial. O coro, aliás, mostrou muita desenvoltura cantando os versos em inglês, e as participações da percussão e dos metais empolgaram. A música está presente na gigantesca Final Fantasy VII Remake Original Soundtrack com sete CDs e estreou ao vivo no Final Fantasy VII Remake Orchestra World Tour que teve a sua estreia prejudicada pela pandemia, resumindo-se a uma transmissão em vídeo sem plateia.

11 – “Chocobo Medley 2012” (Final Fantasy XI, V e XIII)
Originais: “Choc-a-bye Baby” (Final Fantasy XI) ~ “Mambo de Chocobo!” (Final Fantasy V) ~ “Chocobos of Pulse” (Final Fantasy XIII)
Composição: Naoshi Mizuta, Nobuo Uematsu e Masashi Hamauzu
Arranjo: Arnie Roth e Eric Roth
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy 2012 em Londres, Inglaterra

O último número do primeiro ato traz um aspecto lúdico mais até por causa das imagens dos chocobos que eram exibidas no telão, com toda a singeleza da “Choc-a-bye Baby”, única música referente ao FFXI no programa – curiosamente, é uma faixa cortada do jogo e está presente apenas na Final Fantasy XI Original Soundtrack Premium Box. Nesse clima leve, surge a “Mambo de Chocobo!”, versão do tema no FFV com participações do coral para cantar o “Uh!”. O coro então soletra “chocobo” à medida que cada letra aparece no telão, emendando para a mais espetacular rendição da música, a jazzística “Chocobos of Pulse” do FFXIII – mais uma vez Masashi Hamauzu, mais uma vez sensacional. Perto do encerramento, o coral volta a soletrar “chocobo”.

A Orquestra Sinfônica Villa Lobos tocou no Distant Worlds com muito mais instrumentistas do que nas edições do Video Games Live – Foto: Claudio Prandoni

Ato II

12 – “Those Chosen by the Planet – Destiny Comes” (Final Fantasy VII Remake)
Original: “Those Chosen by the Planet – Destiny Comes”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shotaro Shima
Estreia: Final Fantasy VII Remake Orchestra World Tour 2021 em Tóquio, Japão

O segundo ato começou com mais uma música do FFVII Remake que estava prevista no site oficial, mas esta é baseada em uma composição do Nobuo Uematsu para o jogo original. A peça começa com toda a pompa do coral em latim no melhor estilo “One-Winged Angel” e possui um trecho mais singelo na flauta, até o coral retomar novamente. Um belo trabalho do novato Shotaro Shima que está presente no álbum Final Fantasy VII Original Soundtrack Plus, estreou no Final Fantasy VII Remake Orchestra World Tour e foi incorporado pelo Distant Worlds.

13 – “Phantom Forest – Phantom Train – The Veldt” (Final Fantasy VI)
Originais: “Phantom Forest” ~ “Phantom Train” ~ “The Veldt”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Yohei Kobayashi
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy Coral 2022 em Tóquio, Japão

Arnie Roth perguntou se havia fãs de FFVI na plateia e, depois de ver diversos gritos, ele disse que essa trilha era uma das favoritas do Nobuo Uematsu. A “Phantom Forest” já tinha um segmento próprio registrado no álbum Distant Worlds IV, mas a música foi reforçada pela “Phantom Train” e “The Veldt”, que nunca haviam sido arranjadas antes, em um trabalho de Yohei Kobayashi. Embora as faixas estejam relacionadas e eu sempre seja favorável para a orquestração de mais músicas dos 8 e 16-bit, as transições não são muito refinadas. Desconsiderando isso, o arranjo consegue captar bem a riqueza das melodias de cada uma das três composições.

14 – “At Zanarkand” (Final Fantasy X)
Original: “At Zanarkand”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: Tour de Japon music from Final Fantasy 2004 em Yokohama, Japão

Como eu disse anteriormente, neste número os fãs de FFX realmente não conteram a empolgação. O arranjo orquestral de Shiro Hamaguchi ajudou a popularizar ainda mais a música que é um solo de piano na abertura do jogo e se tornou uma das mais conhecidas obras de Nobuo Uematsu. Este segmento e os quatro seguintes foram divulgados previamente no site oficial do evento.

15 – “Cosmo Canyon” (Final Fantasy VII)
Original: “Cosmo Canyon”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Hiroyuki Nakayama
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy 2015 em Chicago, EUA

Com a ajuda da percussão, as cordas dão o clima do tema de Cosmo Canyon, trazendo inevitáveis lembranças do personagem XIII. As flautas também possuem uma participação essencial ao longo de mais uma peça do FFVII original em um arranjo que foi feito recentemente pelo Hiroyuki Nakayama.

16 – “Invincible” (Final Fantasy XIV: Shadowbringers)
Original: “Invincible”
Composição: Masayoshi Soken
Arranjo: Masayoshi Soken e Yoshitaka Suzuki
Orchestração: Sachiko Miyano
Estreia: Final Fantasy XIV Orchestra Concert 2019 -Eorzean Symphony-

Tocando em um momento específico da expansão Shadowbringers de FFXIV – a segunda fase do chefe final –, a faustosa música é mais uma a causar impacto com o coral e é um pouco mais enxuta que a outra faixa do MMORPG. Curiosamente, a versão do jogo é cantada no idioma fictício dos ancients, mas a peça ganhou uma letra com os dois primeiros versos em italiano “Lasciate / Ogne speranza” e os demais em inglês quando foi executada no Final Fantasy XIV Orchestra Concert 2019 -Eorzean Symphony-.

17 – “Not Alone” (Final Fantasy IX)
Original: “Not Alone”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: Tour de Japon music from Final Fantasy 2004 em Yokohama, Japão

Ouvida durante em vários momentos ao longo do FFIX por estar relacionada ao protagonista Zidane, a “Not Alone” já é figura carimbada nos concertos da série com mais uma partitura competente de Shiro Hamaguchi. Os oboés e as flautas são os grandes destaques da peça.

18 – “Battle Medley 2022” (Final Fantasy I-VI)
Originais: “Battle Scene” (Final Fantasy) ~ “Battle Scene 1” (Final Fantasy II) ~ “Battle 1” (Final Fantasy III) ~ “Fight 1” (Final Fantasy IV) ~ “Battle 1” (Final Fantasy V) ~ “Battle Theme” ~ “The Decisive Battle” (Final Fantasy VI) ~ “Victory” (Final Fantasy)
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Yasumasa Sato
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy Coral 2022 em Tóquio, Japão

Para não me estender muito neste número em relação aos outros, ainda pretendo fazer um post comentando mais detalhadamente este medley, só que preciso confessar que não gostei do trabalho de Yasumasa Sato. A “Battle Scene” (FF) e a “Battle Scene 1” (FFII) conseguem captar a empolgação das originais – deu para arrepiar na hora –, mas a “Battle 1” (FFIII) como marcha e especialmente a “Fight 1” (FFIV) com andamento mais lento não me agradaram. A situação melhora com a sequência “Battle 1” (FFV), “Battle Theme” (FFVI) e “The Decisive Battle” (FFVI) e também a “Victory”, salvo alguns detalhes na instrumentação (em especial, o uso do xilofone) que não me convenceram, porém no contexto geral eu terminei com um gosto meio amargo na boca considerando o quão promissor era reunir todos esses temas de combate em um medley.

19 – “Main Theme with Choir -The Definitive Orchestral Arrangement-“ (Final Fantasy)
Original: “Opening Theme”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi e Hiroyuki Nakayama
Estreia: Distant Worlds music from Final Fantasy Coral 2022 em Tóquio, Japão

Assim que vi os créditos subindo nos telões ao som do conhecido tema principal da série, eu pensei: “Mas já está acabando?”. Ao menos isso é um sinal de que a apresentação deixou um gosto de quero mais. A releitura é a mesma de sempre do Shiro Hamaguchi que estreou no 20020220, mas com a adição do arranjo para coral de Hiroyuki Nakayama. Como é apenas um vocalise, senti falta de alguma letra.

Bis

20 – “One-Winged Angel” (Final Fantasy VII)
Original: “One-Winged Angel”
Composição: Nobuo Uematsu
Arranjo: Shiro Hamaguchi
Estreia: 20020220 music from Final Fantasy

E para fechar teve aquela música de sempre com o conhecidíssimo arranjo de Shiro Hamaguchi que estreou no álbum Final Fantasy VII Reunion Tracks e se tornou uma das partituras mais tocadas em concertos de games pelo mundo. Ao menos, a proposta de Arnie Roth ensaiar o público para recitar “Sephiroth!” nos momentos certos ajudou a esfriar as reações exacerbadas que geralmente acontecem quando essa faixa é tocada sem nenhum anúncio. E quer saber? Funcionou muito bem! Essa interação com a plateia foi uma ideia melhor do que iniciativas mal pensadas vistas em outros espetáculos que acabam mais atrapalhando a performance.

A famosíssima “One-Winged Angel” do Final Fantasy VII fechou o espetáculo do Distant Worlds no Brasil, mas outras músicas da série já foram usadas no encerramento das apresentações da turnê pelo mundo – Foto: Claudio Prandoni

Mais perto do Brasil

A espera de 16 anos pela estreia do Distant Worlds no país foi recompensada com um belo espetáculo em solo brasileiro. Pude acompanhar a trajetória da turnê à distância desde o início, ora mais atentamente, ora menos, e não dá para negar que há um esforço em renovar o repertório – e pensar que no começo o Distant Worlds tocava apenas músicas do Nobuo Uematsu! Inclusive foram feitos novos arranjos de composições dos jogos antigos, ainda que minha wishlist siga há anos com faixas novas e velhas como “Ending Theme” (FFVI, em versão completa), Symphonic Poem “Hope” (FFXII), “Born Anew” (FFXIII), “Caius’s Theme” (FFXIII-2), “Find the Flame” (FFXVI) etc. O universo musical de Final Fantasy é quase infinito…. Já pensou se as músicas de spin-offs passassem a ser tocadas? Por causa dessa demora, foram acumulados muitos números inéditos por aqui que poderiam ser lembrados em futuras visitas do Distant Worlds. Só espero que não demorem mais 16 anos para voltar – e de fato há o interesse de trazê-los novamente, conforme Sergio Murilo Carvalho disse ao IGN Brasil. Enfim é possível dizer que o Brasil entrou no circuito das turnês de concertos de games – e que venham tantos outros!

Agradecimentos ao Thales Nunes Moreira por informações sobre as músicas do Final Fantasy XIV.

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