Por Gustavo Hitzschky
1996. Tempos de inocência quando as únicas preocupações se resumiam a tarefas de casa, jogos de videogame e futebol. Época em que o PlayStation ainda engatinhava, porém já começava a mostrar o potencial que o elevaria ao posto de console de mesa mais vendido da história – algo em torno de 102 milhões de unidades.
Recordo que na avenida Deputado Emílio Carlos, no bairro do Limão, havia uma locadora chamada Alugames que era ponto de encontro do pessoal do prédio em que ainda hoje moro. Religiosamente às quintas, combinávamos de alugar uma fita cada um, e então juntávamos entre quatro e seis moleques para que devolvêssemos apenas na segunda-feira. Às vezes, acontecia também de o Gêmeos, um amigo que trabalhava lá, ligar para mim falando sobre os lançamentos mais recentes e, caso algum interessasse, ele trazia em casa após o expediente. E foi no início de uma noite que ele me telefonou e me comunicou sobre o desembarque de três jogos: Resident Evil, Need for Speed e mais um que me foge à mente.
– Mas o que é esse tal de Resident Evil? – perguntei com desdém sem ter a menor idéia do que se tratava.
– Ah, meu, é um lance que você começa em uma mansão e aparecem uns zumbis. Parece meio difícil, mas é legal.
Foi o suficiente para que a curiosidade típica de uma criança de 11 anos fosse atiçada. Pois bem, a partir daí, o mundo dos videogames para mim jamais foi o mesmo – não só por ter entrado em contato com o jogo que, sem sombra de dúvidas, mais me influenciou em todos estes anos, mas foi por conta de Resident Evil que passei a comprar revistas de videogame e a me interessar em definitivo pelo assunto.
As desventuras de Jill Valentine e Chris Redfield são um marco, a inauguração do gênero Survival Horror. Depois dele, houve uma legião de seguidores que buscaram incorporar alguns aspectos de seus elementos. Posso citar Silent Hill, Fatal Frame, Alone in the Dark: The New Nightmare (a franquia que havia servido de inspiração agora passava a imitar RE), Dino Crisis, Onimusha e Haunting Ground (os três últimos da própria Capcom). Não quero aqui dizer que os supracitados não passam de cópias baratas do assunto do post, pelo contrário. São bons títulos que possuem méritos e personalidade independente de Resident. Apenas pretendo ilustrar a importância de uma série que serviu de modelo para tantos jogos igualmente (ou nem tão) relevantes.
Passado esse extenso intróito, e cabe até um pedido de desculpas pela empolgação que RE me provoca, o leitor deve ter percebido o quão entusiasta sou do game da Capcom. Quando comprei o DS no ano passado, tinha a certeza de que iria adquirir o quanto antes Resident Evil: Deadly Silence, algo que só pude fazer em 2007. Para quem não sabe, se trata de um remake da aventura original, a qual terminei, no mínimo, dez vezes. “E mesmo assim você fez questão de comprar o remake para o DS?”. Sim, sem qualquer arrependimento.
Renascendo
Deadly Silence tem dois modos de jogo: Rebirth e Classic. A começar pelo último, não há quaisquer modificações com relação ao original. Por sua vez, o Rebirth traz novidades bacanas, entre elas o uso da stylus em determinados puzzles (alguns inéditos, como baús que possuem uma combinação secreta ou ainda um bem bolado quebra-cabeças numérico presente na Guardhouse). Outra adição fica por conta de cenas em primeira pessoa em que só conseguimos usar a faquinha para matar os inimigos. Não é possível andar, bastando utilizar a caneta como arma e fatiar o que estiver pela frente – se eu dissesse que há um combate com a cobra nesse estilo, você ficaria embasbacado?
Pode ser que isso seja algo pequeno – e de fato o é – mas para quem se aventurou no original de 96, isto até surpreende. É comum encontrar na mesma área adversários de naturezas distintas. Exatamente, zumbis que compartilham seu espaço com hunters para o fim comum de devorar um filé humano. Da primeira vez que vi isso, soltei um portentoso palavrão, realmente me veio como uma surpresa.
Na tela inferior se vê a ação e na de cima temos o mapa. Uma pequena confissão: quando eu era menor, costumava desenhar os mapas de Resident Evil e levava para a escola para ficar estudando as áreas, principalmente o da mansão. Por favor, não me tomem como um lunático, era somente um retardado.
Enfim, se você pensava que os filminhos no começo e no final haviam sido limados, pense novamente: eles estão aqui, com a diferença de que a resolução é um pouco inferior, assim como o resto da parte gráfica de modo geral. Nada que cause asco, mas é só para que ninguém me acuse de que estou sendo parcial neste post (sim, eu estou sendo e nessas horas se deve esquecer o jornalismo. É blog, tenhamos liberdade, eu digo). Não que as seqüências com atores reais sejam um primor de atuação dignas de peças shakespearianas, mas elas são responsáveis por algumas gargalhadas. E ainda bem que foram incluídas em Deadly Silence.
Com relação à dublagem (pausa para um aviso: se Pranda ou Sensei Barros vierem com comentários jocosos sobre as vozes e entonação, considerem-se mulheres mortas) não há nenhuma mudança. As vozes são as mesmas do original, com direito a “Hope this is not Chris’ blood”, “You were almost a Jill sandwich” e “Wow, this hall is dangerous”. Sinceramente, de tão dependente que sou do primeiro RE, poderia citar todas as falas iniciais, mas não quero cansar ainda mais quem conseguiu chegar até aqui sem bater com a cabeça no teclado de sono. Finalmente, a Capcom fez o favor de incluir legendas nos diálogos e, acredite, elas são necessárias na medida em que o som é, estranha e extremamente, baixo. Sobre as músicas de arrepiar a espinha e gemidos horrendos das criaturas (UUUUUUUUOOOOOOOOOOOOOOOUUUUUUUUUUUUUUUUUU… imitando pessoalmente sai melhor), nenhuma modificação. Os fãs agradecemos.
Irretocável. A possibilidade de jogar a primeira versão de Resident Evil em qualquer lugar não poderia ser mais sedutora. Trabalho genial da Capcom, que presenteou os fãs com este outro remake no ano em que a série completou dez anos. Ela já havia lançado em 2002 uma versão ultra-turbinada para GameCube, a qual joguei muito pouco. Porém, Deadly Silence, mesmo com os gráficos levemente inferiores e efeitos sonoros em volume baixo, consegue assustar como se fosse a primeira vez que jogamos. Clássico.
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