“Não são mais brincadeira”

Por André Sirangelo

Domingo a Folha de S. Paulo publicou um perfil do Shigeru Miyamoto, traduzido do New York Times, e aproveitou para emendar com a manchete “Setor de games já movimenta cerca de US$ 350 mi no país”, trazendo dados bem interessantes da Abragames sobre o perfil do jogador brasileiro (segundo a matéria, 42% dos gamers vivem em SP, 23% têm entre 20 e 24 anos e a divisão de classe social é bem equilibrada, com 41% na classe AB e 42% na classe C.).

Mas não deu para conter uma risada com o jeito como o repórter da Folha resolveu começar o texto:

Videogame não é negócio de criança. A brincadeira, que pode acontecer tanto na televisão quanto na tela de um computador ou celular, já faz girar uma indústria que movimenta no país anualmente US$ 250 milhões, sem contar os US$ 100 milhões estimados em vendas pelo mercado paralelo, aquele que traz ao Brasil produtos importados sem pagar impostos.

Tudo bem, é o caderno Dinheiro, o cara precisa explicar para o meu avô, mas mesmo assim esse parágrafo ficou bem duvidoso. Fora que o coitado do Milton Beck, gerente de entretenimento eletrônico da Microsoft, virou “Milton Becki”, e o perfil do Miyamoto ganhou o seguinte trecho na tradução:

E, com base no Wii e no sistema de games DS, que se seguram na mão, a Nintendo tornou-se uma das maiores empresas do Japão.

Hmmm, tem algo errado com esse “que se seguram na mão”, não? Talvez porque o original handheld não tenha exatamente esse sentido… (jeez)

Ok, nada disso é imperdoável, mas eu achei curioso mesmo assim. O que eu queria mesmo destacar era uma matéria da Exame, publicada no fim de maio, que me surpreendeu em alto grau. Elegante, o texto destacou o efeito de blockbusters como GTA IV sobre a economia e a cultura de massa, e não precisou se sair com frases do tipo “a brincadeira acontece…” para explicar o assunto para os executivos. Pelo contrário, a repórter começa o texto lançando um “Os videogames, definitivamente, não são mais brincadeira”. Acho que não veríamos uma reportagem assim 2 anos atrás.

10 Respostas to ““Não são mais brincadeira””


  1. 1 Fabão 12/06/2008 às 4:09 pm

    Não é brinquedo não!
    Desculpe, não resisti. :P
    Bem observado, Mestre Sira. De fato, o ramo já é encarado como negócio. Agora, quanto tempo mais para aceitarem o status de arte?

  2. 2 geraldofigueras 12/06/2008 às 4:33 pm

    Sei que devíamos ver isso como algo positivo, mas o meu lado arrogante impera nessas questões, e o que me na cabeça é: uma revista como a Exame, tida como referência de publicações de business, precisou de todos esses anos pra se dar conta e pautar um jornalista competente pra organizar uma matéria que realmente demonstre a realidade dessa indústria, que é real há muitos anos?

    E se isso me irrita, preciso tecer um comentário sobre essa pérola da Folha de São Paulo? O cara deve ter colocado “videogames indústria toys” no Google, e usou a Ferramente de Idiomas pra traduzir (só assim pra aceitar “os que se seguram na mão”.

    Fabão, se até hoje existe dúvida sobre o que realmente é arte (aquela história de “não confunda a grande obra do mestre Picasso com a…”), que esperança temos de, tão breve, obtermos aceitação do grande público?

  3. 3 Mauri Link 12/06/2008 às 4:45 pm

    Como diria o comentarista de Futebol da BAND, o Neto: “Tão de brincadeira esses caras que escrevem matéria de games na VIP, na Época e um monte de outras revistas, jornais e etc. Vão estudar a matéria antes de escrever bobagens!”

    Pessoal, aqui no Jornal campineiro Correio Popular, sempre escrevem várias bobagens e informações distorcidas, além de ora colocar a matéria na seção infantil, ora na de informática. Da última vez, fizeram uma matéria do novo Rainbow Six e a colocaram no caderno Infantil! Isso lá é jogo que se recomende para crianças de 4 a 12 anos?

  4. 4 Gustavo Oliveira 12/06/2008 às 6:13 pm

    Párabens ao senhor Sirangelo.

    Na verdade, eu não acho que os videogames precisem ser explicados como coisas de outro planeta como

    “A brincadeira, que pode acontecer tanto na televisão quanto na tela de um computador ou celular”

    Acredito que qualquer pessoa que leia a folha ou estadão, saiba o que é um videogame, mesmo que não tenha jogado. E não me levem à mal, mas, uma pessoa (leia-se um executivo) que Lê o caderno “dinheiro” muito provavelmente sabe o que é um videogame, porque,provavelmente seu filho deve ter um.

    @ Fabão
    Eu acho que o Geraldo tá certo. Até hoje se discute o que é arte, e como ela é concebida. É claro que para nós, games são arte, porque são compostos de imagem e som, basicamente, (além de muitos outros conceitos, mas estou no trabalho e louco para ir embora, já são 18:00!!!), mas para as pessoas leigas, por assim dizer, game não passa de brincadeira de criança.

  5. 5 geraldofigueras 12/06/2008 às 6:32 pm

    Sim, games não passam de brinquedo de criança. E não dizem que tem música que é só barulho? Quadros que são rabisco de criança? Filmes que “não fazem sentido por que não dá pra entender nada”?

    Essas frases aí são todas da mesma turma. Dá pra esperar uma compreensão adequada deles?

    E games não são arte porque agora tem Okami. Há decadas atrás, quando se fez necessário o uso da criatividade produtiva através do domínio de uma técnica, criou-se arte.

    Ah, e a bem lembrada revista VIP: dá pra levar a sério uma publicação de homens escrita aos montes por mulheres? Se for assim, vou pedir um emprego na Nova.

  6. 6 Caio Corraini 13/06/2008 às 9:28 am

    Quando será que uma matéria sobre games não vai mais começar com a frase “videogames não é mais coisa de criança”????
    Deus do céu…
    Alias, destaque tambem para as matérias constantes da revista Epoca que pelo menos uma vez por mes publica alguma coisinha nerd lá pra gente.

  7. 7 Rodrigo Flausino 14/06/2008 às 9:46 pm

    André, use este link no lugar do outro:

    http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u410129.shtml

    Este que você colocou só abre pra assinantes do UOL. O outro é liberado pra todo mundo.

  8. 8 André Sirangelo 15/06/2008 às 4:40 am

    Boa Rodrigo, valeu pela dica!


  1. 1 Folha Online: Setor de games já movimenta R$ 350 milhões no Brasil! | GamedevBR Trackback em 14/06/2008 às 10:25 pm
  2. 2 Folha Online: Setor de games já movimenta R$ 350 milhões no Brasil! | Select Game Trackback em 01/10/2011 às 6:58 pm

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