
Por Alexei Barros
Nove anos depois de prometido, enfim o álbum arranjado de Chrono Cross foi lançado, dividindo essa honraria com o predecessor Chrono Trigger. Para ser direto, To Far Away Times: Chrono Trigger & Chrono Cross Arrangement Album não compensou, no meu entendimento, essa longa espera.
O disco aposta em performances vocais, mas também traz arranjos orquestrais e uma releitura com uma banda celta. Talvez o CD já comece errado por aí. Acredito que seria melhor ter mais versões sinfônicas e uma ou outra música com vocal como bônus – o Myth foi muito mais feliz nesse aspecto. Com tantas faixas cantadas, eu lançaria um outro disco só nesse estilo, como é o Final Fantasy Song Book: mahoroba, por exemplo. Porém, não é por isso que o To Far Away Times deixa de apresentar arranjos bastante apreciáveis, incluindo as releituras cantadas.
Além disso, se a ideia era abordar a série toda, o CD não promove nenhuma interação entre as músicas de Chrono Trigger e Cross, fazendo uma divisão muito clara entre cinco faixas para cada jogo. A suíte “Fantasy III: Chrono Trigger/Chrono Cross” do Symphonic Fantasies, que considero o ápice musical entre as homenagens que a série já recebeu, explora muito mais a relação entre os dois jogos, promovendo um diálogo entre ambos os trabalhos de Mitsuda. No To Far Away Times, apenas uma única faixa faz uma tímida associação entre as duas trilhas (“Schala’s Theme” – falo mais a respeito adiante). E outra: onde estão os medleys? Medley de temas de personagens, medley de temas de combate, medley de temas do mapa-múndi… Nada disso foi explorado.
Tudo fica ainda mais lamentável quando lembro que a própria trilha do Chrono Cross já faz muitas referências a Chrono Trigger. Quem não se lembra que o tema “Time’s Grasslands – Home World” evoca de maneira maravilhosa na cítara o tema principal “Chrono Trigger” ou então, ainda mais óbvio, que o tema da vitória “Victory ~Spring’s Gift~” de Chrono Cross é a “Fanfare 1 (Lucca’s Theme)” de Chrono Trigger?
Ainda que o álbum não tenha nenhuma abominação no nível da “Zeal Palace” do The Brink of Time ou alguma excentricidade como a “Kaze no you ni” do cantor J-pop Shota Shimizu (lembra?), eu fico com a sensação de que poderia ser muito melhor. Mas vejamos faixa por faixa.
01. “Scars of Time” (Chrono Cross)
Original: “Scars of Time”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Tomohiko Kira
Vocal: Koko Komine
Com tantas performances e exaustivas repetições, eu esperava muito mais de um arranjo oficial do tema mais famoso de Chrono Cross. Meu maior desgosto com essa releitura é justamente o vocal com versos em japonês da Koko Komine, embora a participação dela não seja tão extensa durante a canção. O andamento mais pausado tirou toda a empolgação na virada da música e nem a adição da guitarra ajudou a melhorar – a faixa perdeu todo o clima mágico, especialmente pela ausência do violino. Honestamente, é uma versão para esquecer.
02. “Radical Dreamers” (Chrono Cross)
Original: “Radical Dreamers”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Sachiko Miyano
Vocal: Sarah Àlainn
O álbum começa a esquentar, indo direto para o tema de encerramento de Chrono Cross. A diferença é que a música já era cantada na trilha original pela Noriko Mitose. Espero não chocar com esta afirmação, mas não morro de amores pela “Radical Dreamers” que toca no jogo. Agora essa nova releitura melhora a canção 100%. Em vez dos versos em japonês (mesmo na versão americana) e um solitário violão no acompanhamento, o arranjo é cantado em inglês e apresenta uma instrumentação de maior riqueza, com intervenções de piano, violino e violoncelo. A voz da australiana Sarah Àlainn é encantadora, deixando a experiência muito mais agradável.
03. “Wind Scene” (Chrono Trigger)
Original: “Wind Scene”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Kumi Tanioka e Sachiko Miyano
O tema de 600 A.D. aparecia brevemente no “Chrono Trigger Medley ~Orchestra Version~” do Orchestra Extra com a participação da flauta. Dessa vez, o arranjo não apresenta instrumentos de sopro e é totalmente centrado no piano e cordas. É em partituras assim que se destacam os grandes arranjadores, já que ele precisa explorar a melodia de várias formas e com variações coerentes. Essa tarefa foi cumprida com absoluto êxito pela dupla de arranjadoras Kumi Tanioka e Sachiko Miyano.
04. “Schala’s Theme” (Chrono Trigger)
Original: “Schala’s Theme”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Yasunori Mitsuda e Laura Shigihara
Vocal: Laura Shigihara
Reouvindo o tema da Schala original, dá para sentir um quê de Chrono Cross, mesmo que a trilha de Chrono Trigger tenha sido feita cinco anos antes. O arranjo aproveita isso de certa forma com o violão e o tin whistle que me fizeram lembrar a “The Girl Who Stole the Stars” de Chrono Cross. Os dois instrumentos permeiam o vocal mágico com versos em japonês da Laura Shigihara – pelo pouco que entendi da entrevista que Yasunori Mitsuda concedeu ao site da Famitsu, a semelhança foi intencional. A harpa e as cordas foram capazes de elevar essa versão ao estado sublime.
05. “The Frozen Flame” (Chrono Cross)
Original: “The Frozen Flame”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Natsumi Kameoka
Chegamos à metade do álbum e enfim uma música de Chrono Cross em um arranjo orquestral. Enquanto a faixa original contava com timbres de harpa, piano e um instrumento de sopro (uma flauta, talvez?), essa nova versão tira a mencionada variedade de instrumentos para se focar nas cordas em um trabalho simples, mas competente da Natsumi Kameoka.
06. “Marbule” (Chrono Cross)
Original: “Marbule”
Composição e arranjo: Yasunori Mitsuda
Diferentemente dos demais arranjos instrumentais do álbum que são sinfônicos, essa versão traz a performance de uma banda que reforça a influência celta da composição. A faixa começa com um acordeão que desperta a nostalgia e, com mais de um minuto de música, a percussão, o bouzouki e o tin whistle entram em cena. O violino é o instrumento que mais se destaca com um solo virtuosístico.
07. “The Bend of Time” (Chrono Cross)
Original: “The Bend of Time”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Natsumi Kameoka
Enfim aparece no álbum a primeira música revelada do projeto. Originalmente um solo de violão, ela ganhou uma nova camada de profundidade nesse reconfortante arranjo para cordas.
08. “Corridors of Time” (Chrono Trigger)
Original: “Corridors of Time”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Yasunori Mitsuda e Laura Shigihara
Vocal: Laura Shigihara
Agora cantando em inglês, Laura Shigihara se destaca com sua voz adocicada. A música original tinha um clima etéreo, com timbre de cítara, e essa atmosfera ganhou uma nova cara com o acompanhamento do piano e das cordas.
09. “On The Other Side” (Chrono Trigger)
Original: “Epilogue~To Good Friends”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Kazune Ogihara e Laura Shigihara
Vocal: Laura Shigihara
Na última participação de Shigihara, ela volta a cantar em inglês e esse foi o resultado que mais me surpreendeu, já que a simplicidade da música original combinou maravilhosamente bem com o arranjo vocal. O piano e, em menor grau, as cordas, sustentam a bela atuação de Shigihara. No final, ela se limita a cantarolar enquanto o piano toca a melodia.
10. “To Far Away Times” (Chrono Trigger)
Original: “To Far Away Times”
Composição: Yasunori Mitsuda
Arranjo: Sachiko Miyano
Vocal: Sarah Àlainn
Na música-título do álbum, o tema dos créditos de Chrono Trigger desponta nesse maravilhoso arranjo cantado. O início tranquilo da melodia já é de cortar o coração, mas a canção só melhora quando entra a bateria e o restante dos instrumentos. Mesmo com tudo isso, a releitura respeita a faixa original, colocando até o trecho que remete ao tema principal “Chrono Trigger”, imitando uma caixinha de música. Uma canção digna de homenagear os 20 anos de Chrono Trigger.
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